Destaque recente da Netflix, Luta por Justiça (Just Mercy, 2019), dirigido por Destin Daniel Cretton, é um drama baseado em fatos reais que expõe as falhas do sistema jurídico norte-americano e o impacto do racismo estrutural. O longa, estrelado por Michael B. Jordan, Jamie Foxx e Brie Larson, adapta as memórias do advogado Bryan Stevenson, fundador da Equal Justice Initiative, organização que luta pela defesa de pessoas injustamente condenadas à morte.
Luta por Justiça (Just Mercy, 2019)
A história por trás da injustiça
A trama se passa no Alabama, nos anos 1990, e acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Jordan) em seu primeiro grande caso: a defesa de Walter McMillian (Foxx), um homem negro condenado à morte pelo assassinato de uma jovem branca, apesar da ausência de provas e do testemunho de diversas pessoas que garantem sua inocência. A investigação conduzida por Stevenson revela um sistema contaminado pela corrupção e pelo preconceito, onde as autoridades locais manipulam evidências e distorcem verdades para preservar interesses políticos e raciais.
Ao longo da narrativa, o filme contrapõe a serenidade e o idealismo de Stevenson à brutalidade de um sistema que insiste em negar justiça a quem mais precisa dela. Cretton constrói uma história que, mesmo com estrutura tradicional, busca denunciar um ciclo histórico de opressão que persiste sob novas formas.
A força e os limites da abordagem de Destin Daniel Cretton
O diretor opta por uma condução discreta, sem recorrer a grandes gestos técnicos. Essa escolha mantém o foco nos personagens e nas emoções contidas em cada cena. No entanto, o tom excessivamente cuidadoso do roteiro e da direção reduz o potencial de impacto da história, tornando o filme mais didático do que provocador.
“Luta por Justiça” segue uma fórmula segura de dramas judiciais, com a intenção de alcançar um público amplo. O resultado é um retrato digno, porém pouco arriscado, do racismo institucional e das barreiras enfrentadas pelos que desafiam esse sistema.
Atuações que sustentam o drama
Michael B. Jordan entrega uma performance sólida, ainda que limitada por uma escrita que idealiza demais seu personagem. Seu Stevenson é retratado quase sem falhas, o que o torna mais símbolo que ser humano. Já Jamie Foxx imprime humanidade a Walter McMillian, evitando o tom de vítima passiva. Em suas cenas, especialmente nas interações com o condenado Herbert Richardson (Rob Morgan), o filme atinge seus momentos mais genuínos.
A atuação de Morgan, como um veterano de guerra com transtorno de estresse pós-traumático, é o ponto mais emocional da obra. Sua trajetória no corredor da morte revela a complexidade de um homem que carrega culpa e trauma, expondo a linha tênue entre a justiça e a compaixão. Brie Larson, por sua vez, cumpre um papel secundário como Eva Ansley, colega de Stevenson, sem muito espaço para desenvolvimento.
Um retrato do sistema e de seus estereótipos
O filme evita mergulhar na raiva ou na indignação, preferindo transmitir sua mensagem por meio da esperança e da persistência. Essa escolha, embora nobre, reflete uma tradição de produções sobre injustiça racial que suavizam o conflito para não chocar o público branco. Cretton constrói vilões caricatos — como o xerife corrupto Tate — e simplifica o funcionamento das engrenagens de um sistema judicial que opera de forma estruturalmente racista.
Ainda assim, a adaptação de Cretton e Andrew Lanham levanta discussões importantes: a diferença de valor atribuída às vidas negras e brancas, o abandono dos veteranos de guerra, o uso político da pena de morte e o desequilíbrio social perpetuado por décadas.

Crítica de Luta por Justiça: um filme necessário, mesmo que previsível
“Luta por Justiça” pode não reinventar o gênero nem apresentar a contundência de obras mais desafiadoras sobre o tema, mas cumpre um papel relevante ao recontar uma história real que continua atual. O longa reafirma a importância do trabalho de advogados e ativistas como Bryan Stevenson e convida o público a refletir sobre a desigualdade que atravessa o sistema penal dos Estados Unidos.
Com boas atuações e um tom respeitoso, o filme se sustenta como um retrato acessível da luta contra a injustiça racial — uma narrativa que continua necessária em qualquer tempo.