Esse texto contém as impressões dos cinco primeiros episódios de Luke Cage. Ah, está totalmente livre de spoilers 😉
Volte alguns anos no tempo, mais precisamente para a época em que Marvel e Netflix anunciaram uma parceria que resultaria em cinco séries (pelo menos a princípio): Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e depois a união de todos eles em Os Defensores. Naturalmente, grande parte do público apostava que o Homem Sem Medo roubaria a cena, o que de fato aconteceu nas duas temporadas. Mas, talvez, ninguém sonhasse que seria a série do Luke Cage que traria um ar inovador para essa empreitada, apostando em elementos que o diferenciam de seus companheiros de casa.
Assim como Hell’s Kitchen foi o parque de diversões do Demolidor e de Jessica Jones, Luke também tem seu espaço: o Harlem. E assim como nas grandes séries já feitas, o espaço urbano é um personagem bastante importante. Vamos mergulhando em uma cultura rica, com uma carga histórica pesadíssima nas costas. Entre lugares históricos, citações de ícones da cultura negra, guerras de gangues, conversas sobre esportes e uma trilha sonora perfeita (que vai ser tema de outro texto), o Harlem vai abrindo suas portas para o espectador, mostrando que existe um mundo de possibilidades ali. Luke Cage está situada no ambiente perfeito.
Mike Colter está bem mais habituado ao seu papel. Ele já havia se destacado em Jessica Jones, mas aqui tem mais espaço para brilhar. Claro, passa longe de ser o melhor ator do mundo, mas não decepciona quando é exigido. Tendo até momentos para mostrar sua veia dramática. Mas quem espera ver um super-herói inabalável, com sua pele impenetrável, pode se decepcionar um pouco. O que vemos é um Luke Cage mais pé no chão, mais humano. Lembra em certos momentos as fases nos quadrinhos em que esteve nas mãos de Brian Michael Bendis (Alias) e Brian Azzarello (Cage, do selo Marvel Max).
É um cara que quer distância dessa papo de vigilante, canastrão, inseguro em certos momentos e que ainda sofre com os fantasmas de seu passado. Mas que decide agir quando o código das ruas é quebrado. Estabanado, mostra que tem mas em comum com a Jessica Jones do que com Matt Murdock. Ao mesmo tempo em que é completamente diferente dos dois.
Leita também: Luke Cage pode ser mais do que uma série de super-herói.
Ainda na parte dos mocinhos, quem merece destaque é Mercedes “Misty” Knight (Simone Missick). Personagem marcante nos quadrinhos, aqui ela ganha vida de uma forma apaixonante. Forte, dona do próprio nariz, que não leva desaforo de bandido pra casa e que ainda tem tempo para colocar Luke Cage contra a parede. Em certos momentos ela brilha mais que o protagonista, fazendo com que o público queira vê-la em ação cada vez mais (inclusive já está garantida em Os Defensores). Ela faz a ponte entre os dois lados da lei: policiais e vigilantes.
Mas o grande charme das séries Marvel/Netflix está nos vilões. A bola de vez é Cornell Stokes, conhecido como Cottonmouth (Boca de Algodão). Graças a interpretação brilhante de Mahershala Ali (de House of Cards), temos um cara que não fica atrás de Wilson Fisk e Kilgrave na arte de ferrar com a vida dos mocinhos. Elegante, de fala mansa, envolvente e com uma presença que ofusca todos ao seu redor. Mas extremamente perigoso e violento quando contrariado. Um monstro capaz de tudo para defender sua coroa.
Ao seu lado está sua prima Mariah (Alfre Woodard, que não está vivendo a mesma personagem de sua participação em Capitão América: Guerra Civil). Os dois formam uma dupla funcional justamente por seus pontos de vista diferentes, mas que convergem para o mesmo objetivo. A galera dos filmes da Marvel já pode ter uma aula de construção de vilões com o pessoal das séries.
Com um ritmo bem diferente de Demolidor e Jessica Jones, Luke Cage mostra que é uma série com identidade própria. Mesmo que ainda possua aquela carga de referências aos eventos passados do MCU, forçando uma ligação que nunca vai além de frases como “o cara do martelo, o cara do escudo, o cara da armadura e o cara verde” ¯\_(ツ)_/¯.
Todos os episódios de Luke Cage já estão disponíveis na Netflix. E fiquei ligado aqui no site para mais textos sobre a série 😉