Jean-Claude Van Damme consolidou sua imagem como ícone do cinema de ação nos anos 1980 e 1990, mas em sua fase mais recente o ator tem explorado papéis que refletem o desgaste físico e emocional de quem viveu nesse gênero. Lukas (2018), dirigido por Julien Leclercq e disponível no Prime Video, é um bom exemplo dessa transição. Longe das coreografias espetaculares que o tornaram famoso, Van Damme assume um personagem silencioso e melancólico, que tenta sobreviver à própria decadência.
Um homem cansado em busca de redenção – Jean-Claude Van Damme interpretando a si mesmo em Lukas?
Em Lukas, Van Damme interpreta um segurança de boate na casa dos cinquenta anos, que enfrenta dificuldades financeiras e tenta cuidar sozinho da filha pequena. Quando perde o controle em uma discussão e agride um cliente, ele é preso e vê a menina ser levada pelos serviços sociais. Desesperado para recuperá-la, Lukas aceita trabalhar como informante da Interpol, infiltrando-se na organização criminosa de um líder holandês que opera na Bélgica.
A trama parece seguir o modelo clássico do thriller de ação, mas o foco aqui é outro. O filme se concentra menos nas sequências de luta e mais nas consequências do que significa viver nesse ambiente violento. Lukas é um homem esgotado, que age com frieza não por crueldade, mas por cansaço. Cada movimento seu carrega o peso de quem já viu e fez demais.
A vulnerabilidade como força dramática
Van Damme utiliza sua presença física de forma diferente do que o público está acostumado. Seu corpo, antes símbolo de agilidade, agora é retratado como instrumento de sobrevivência. O ator transmite uma vulnerabilidade silenciosa, com expressões marcadas por uma vida inteira de combate. Essa abordagem transforma Lukas em uma espécie de espelho do próprio Van Damme — um artista tentando encontrar propósito após o auge da carreira.
Essa dimensão introspectiva aproxima o longa de JCVD (2008), em que o ator também explorava sua imagem de forma autoconsciente. Em Lukas, contudo, o tom é mais contido. A relação entre pai e filha serve de fio emocional, ainda que o roteiro mantenha os diálogos mínimos e a narrativa propositalmente fria.

Um thriller de poucas palavras e muita atmosfera
Visualmente, o diretor Julien Leclercq aposta em uma estética cinzenta e industrial, reforçando a ideia de um mundo sem brilho. A ação é breve, mas crua, e traduz a desesperança do personagem. Não há glamour nas lutas, apenas a sensação de urgência e necessidade.
Embora o enredo siga uma estrutura previsível, o filme ganha força na maneira como transforma o cansaço do protagonista em linguagem. Lukas é menos sobre vingança e mais sobre resistência — sobre continuar se movendo quando não há mais nada a esperar.
Crítica de Lukas: vale à pena assistir ao filme no Prime Video?
Lukas é um retrato melancólico de um herói em fim de linha, que reflete tanto o personagem quanto o próprio Van Damme. Para quem busca o espetáculo físico dos clássicos dos anos 1990, o filme pode soar contido. Mas para quem se interessa por uma leitura mais humana e realista do astro belga, é uma experiência reveladora. Disponível no Prime Video, o longa mostra que Jean-Claude Van Damme ainda tem algo a dizer — mesmo quando prefere o silêncio às palavras.