Se hoje o jogo rítmico mais famoso provavelmente é Just Dance, já houve uma época que não dava pra falar de joguinhos de música sem pensar em Guitar Hero e suas literais guitarrinhas de plástico. Se tanta gente ouve Through the Fire and Flames hoje e lembra das notinhas coloridas, é estranho ver que não há muitos títulos por aí tentando resgatar essa nostalgia. LOUD: My Road to Fame, entretanto, é um desses que tem clara a sua inspiração, mas toma uma série de decisões para tentar ganhar uma identidade própria — uma identidade que não está em harmonia e, muito menos, forma uma bonita melodia.
O modo história de LOUD conta a história de uma jovem adolescente que ama indie rock e sonha em se tornar uma grande estrela um dia com apenas a sua guitarra e a sua paixão pela música. Conforme o jogo vai passando, vemos o processo de crescimento e amadurecimento dela, tanto pessoal quanto profissional, até fazer seu primeiro show em um festival e realizar finalmente seu sonhos e… quem eu tô querendo enganar?
É impossível se conectar com a trama quando ela inteira é contada em uns trinta parágrafos e meia dúzia de imagens. Como alguém que também viveu os anos 2000 quando adolescente, seria muito legal ver mais sobre esse pequeno mundinho da nossa jovem sonhadora, mas tudo acontece tão rápido que nada tem impacto. Até os conflitos que são realmente importantes são resolvidos de uma frase pra outra.
Mas, OK, LOUD é um jogo rítmico, pelo menos a parte musical tem que ser boa e divertida de jogar, certo? Bem, a trilha sonora é, de longe, a melhor parte do pacote. São todas músicas originais e instrumentais (então não espere nada muito conhecido), e eu senti falta de mais peças vocais, mas o conjunto é bem legal. Vale ouvir até mesmo depois de terminar, por mais que nenhuma realmente se destaque.
Só que jogá-las é uma outra situação completamente diferente, provavelmente o meu maior problema com o título. Como alguém que gosta do gênero é fácil entender como várias decisões de interface e mecânicas podem impactar diretamente a diversão que você vai ter tentando acompanhar as melodias (e a frustração que pode vir a acontecer). Dito isso, LOUD toma uma série de decisões que não faz nenhum sentido.
Ao invés de uma seção mais contida de notas (como Guitar Hero ou DDR), ele usa seis (6!) trilhas de notas espalhadas pela fase em todas as dificuldades, algo parecido com Samba de Amigo, na verdade, colocando lá em cima o patamar de complexidade. Além disso, ao contrário do jogo da SEGA, as notas vêm de fora da tela em pequenas trilhas, que dificultam prever as próximas notas.
Estrelas representam quando cada botão deve ser apertado (que, inclusive, não podem ser remapeados no controle), mas todas são sempre amarelas. Vários jogos criam códigos de cor para mostrar a posição das notas ou a distância delas da batida básica da música, mas aqui todas são iguais, tornando bem complicado dar sentido a grupos grandes de marcações.
Na verdade, ela muda de cor em momentos de solo… para estrelas verde-claro, que correm dentro de pistas também azul-claro! Ou seja, não é que não dá pra diferenciar, mal dá pra enxergar direito as notas nesse ponto. Junte tudo isso e jogar uma música em LOUD em qualquer dificuldade que não seja a mais fácil torna-se um desafio irritante de tentativa e erro.
É triste pensar no potencial que tem um sucessor indie rock para as guitarrinhas de plástico e o quanto LOUD: My Road to Fame está aquém desse potencial. Mesmo passando um pano para a meia dúzia de frases que o jogo chama de história, e tentando aproveitar a competente (mas nada excepcional) trilha sonora, as decisões de gameplay desse jogo parecem ter sido feitas, unicamente, para tirar o estigma da “cópia de Guitar Hero“, ao invés de formarem uma experiência coesa. Desde o primeiro trailer, eu torcia para que ele realmente alcançasse a fama e se tornasse uma boa indicação para os viúvos de GH, mas definitivamente não vale levar esse disco pra casa.
LOUD: My Road to Fame está disponível para PC na Steam, para PS4 e PS5, para Xbox One e Xbox Series e no Nintendo Switch.
*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.