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Lou

Há algo de fascinante em produções de baixo orçamento, pois é assim que nascem diversas obras cultuadas – com algumas até escalando para o patamar de franquias de sucesso. Rocky: Um Lutador (1976), Mad Max (1979) e Jogos Mortais (2004) são alguns dos exemplos de produções que conseguiram fazer muito com pouco, se firmando no mercado cinematográfico como grandiosas. Com Lou (2022), filme exclusivo da Netflix dirigido por Anna Foerster, fica a impressão de que a chance de conseguir algo do tipo possa ter escapado pelas mãos da diretora.

Isso porque, logo de cara, a protagonista vivida por Allison Janney dá um show de carisma com sua personalidade fortíssima. O fato da narrativa nos apresentar inicialmente um momento posterior da história, quando ela se prepara para tirar a própria vida, ajuda a instigar sobre essa interessante figura. O que se segue, então, é o como ela chegou até ali sendo uma mulher solitária, de idade avançada, mas que não depende de ninguém e se importa muito pouco com as regras da ilha onde vive.

A trama anda de verdade quando Lou (Janney) vê sua casa ser invadida por Hannah (Jurnee Smollett), sua inquilina, com quem tem recorrentes atritos pelos atrasos no aluguel. A mulher, desesperada, precisa usar o telefone para chamar a polícia pois sua filha foi sequestrada pelo pai. De prontidão, Lou a ajuda revelando que suas habilidades para caçar vão além de animais.

Revelar mais da trama a partir daqui é entregar demais, e seria perigoso estragar a experiência do espectador, mas é seguro dizer que o roteiro de Maggie Cohn e Jack Stanley segue a cartilha de reviravoltas de bons filmes de suspense. O grande problema fica por conta de algumas explicações, como o porquê do sequestrador (interpretado por Logan Marshall-Green, que faz bem o papel de psicopata mas nada além disso) sofrer dos traumas que sofre. Isso acontece através de diálogos e flashbacks que não munem o espectador de informações o suficiente para o devido funcionamento da suspensão de descrença.

Isso acaba afetando também o peso dramático dos desdobramentos da história, que envolvem o reencontro de Lou com seu passado e o resgate da filha de Hannah das garras do criminoso. Porém, no geral, o texto está bem amarrado e as sementes plantadas previamente são colhidas mais para o final da fita, o que acaba servindo como um afago para quem gosta de assistir adivinhando o que vem a seguir.

Mas o grande diferencial é Allison Janney. Os atos que a aproximam de uma autêntica bolsonarista (como caçar em época proibida) são igualmente compensados por outros como o bom tratamento que ela dá ao seu cachorro e, no fim, acabamos tendo um desfecho semelhante ao personagem de Chris Hemsworth em Resgate (filme de 2020, também da Netflix), nos deixando com vontade por mais histórias dessa mulher casca-grossa.

Talvez se a produção tivesse adotado uma abordagem mais parecida com Atômica ou Anna (pra citar duas produções que usam o sistema “John Wick” de ação com personagens femininas), ou seja, cenas de ação e perseguição ainda mais frenéticas e exaustivamente coreografadas, teríamos aqui um novo clássico. Infelizmente, Lou bateu na trave.