Se alguém me perguntar qual é meu passatempo favorito, nonogramas é a única resposta que eu posso dar. Eles são pequenos puzzles de papel-e-caneta (mas com várias versões digitais), em que você deve preencher uma malha quadriculada usando dicas numéricas que estão em volta para formar uma imagem, apenas usando lógica e dedução para saber onde pintar ou não. Se ainda não conhece, a gigante digital desse tipo de jogo finalmente está trazendo sua qualidade para o PC com Logiart Grimoire, a primeira empreitada da Jupiter Corporation nos computadores que definitivamente não me desapontou.
Minha descrição pareceu familiar, mas o nome não? Talvez você conheça esses desafios como Picross, o nome utilizado por quase 30 anos para as versões digitais dele nos consoles da Nintendo, indo do Game Boy até o Nintendo Switch. Mesmo que vários outros times também tenham adaptados os nonogramas para as telas — com algumas bem boas —, eu diria que carregar oficialmente o nome Picross mostra não só a qualidade dos puzzles como as melhorias constantes em interface e qualidade de vida. Vai por mim, eu tenho mais de 150 horas neles. A grande constante é que todos, sem exceção, foram feitos pela Jupiter, o que já me deixou muito animado para esse novo título na Steam.
Nonogramas são bem divertidos: por mais que sejam puzzles abstratos, eles lembram aquelas revistinhas Coquetel que você encontra em banca de jornal. Para cada linha ou coluna da malha quadriculada, vai ter uma sequência de números que mostra a quantidade de grupos contínuos de quadrados que devem ser preenchidos ali. Em uma grade 5×5, por exemplo, uma linha com “5” indicaria ◼◼◼◼◼, enquanto “2 2” indicaria ◼◼□◼◼, já que, entre conjuntos indicados pelos números, é necessário ter, pelo menos, um espaço em branco. É difícil de explicar assim em texto, mas eu prometo que jogando fica bem mais fácil e intuitivo.
Por um lado, tudo que você pode esperar do último Picross S no Switch, você pode esperar em Logiart Grimoire. Mais de 300 puzzles bem bonitos, com tutoriais para aprender regras básicas, e muitos recursos para facilitar a jogatina (mesmo para aqueles que já são experientes, mas querem só jogar para relaxar). Por mais que algumas conquistas te incentivem a não usar nenhuma das ajudas disponíveis, ele realmente não trava conteúdo algum atrás dessa limitação — colunas e linhas prontas no começo do jogo, indicadores de linhas com movimentos possíveis e detecção automática de erros estão preparadas para serem usadas. Ainda sinto falta de uma opção para preencher com X todos os quadrados em branco de uma linha completa (que já é padrão em outros jogos), mas não é algo que estraga a experiência.
Por outro lado, outros modos de jogo famosos nas coletâneas Picross não estão disponíveis ainda, como Micross, Super Picross, ou Color Picross. Para muitos jogadores, esses modos ajudavam a quebrar a monotonia e traziam desafios diferentes. O título ainda está em acesso antecipado, então talvez eles apareçam, mas Logiart Grimoire traz uma ideia diferente para compor o pacote: historinha! Durante a narrativa, você é acompanhado pelo mago Emil, guardião do grimório que dá nome ao jogo. Sua missão é ajudá-lo a recuperar a magia do livro, resolvendo e redescobrindo os Logiarts (como são chamados os nonogramas aqui). É aqui que entra o diferencial da nova mecânica de fusão de nonogramas, que foi uma grata surpresa.
Em uma proposta que lembra jogos mobile como Doodle God, apenas alguns puzzles estão disponíveis no começo do jogo. Eles representam conceitos básicos e “primordiais”, como madeira, fogo ou eletricidade. Vários outros Logiarts devem ser recuperados usando fusões desses elementos a partir de dicas. Se uma dica diz que “queima com força desde que você coloque combustível”, você consegue fundir madeira com fogo e gerar um novo puzzle — que, quando resolvido, vai virar uma fogueira! Esse processo continua, usando os novos Logiarts para fundir em novos e, assim, recuperar todo o grimório.
A falta de localização para o português acaba sendo um empecilho nesse tipo de puzzle (algo que os nonogramas por si só não tem), mas gostei bastante dessa mudança de ritmo. Eu já joguei várias coletâneas só resolvendo um Picross depois do outro sem nem prestar atenção direito nas figuras, e a mecânica de fusão me faz apreciar melhor os desenhos e pensar neles, ao invés de só sair resolvendo. Sei que pode não agradar a todos, mas é definitivamente uma mudança bem-vinda que eu não esperava, principalmente vindo do primeiro projeto deles em uma nova plataforma. Até indicar quais fusões são possíveis no momento (e quais ainda não são por falta de ingredientes) está já presente e ajuda a diminuir a frustração também.
Tem muitas adaptações digitais de nonogramas disponíveis no mercado, mas o selo de qualidade da Jupiter é realmente fora de série. Logiart Grimoire é um puzzle feito por quem sabe fazê-lo, com bonitas animações e divertidos diagramas para serem resolvidos. A mecânica de fusão não parecia que ia agregar tanto à experiência, mas como uma pequena pausa entre tantos quadradinhos pintados, é uma ótima adição que torna o pacote conciso, mas bem interessante — só é uma pena a barreira linguística que ele traz, infelizmente. Se essa é a sua praia, tem um livro inteiro esperando para ser recuperado e muitos Logiarts para serem resolvidos.
Logiart Grimoire está disponível para PC na Steam em acesso antecipado.
*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.