Dirigido e escrito por Danny Dunlop, Lobos (Wolves, 2022) é um filme canadense que mistura drama psicológico, suspense policial e ecos de terror. Disponível para assistir no Prime Video, o longa mergulha na mente de um protagonista solitário que se vê consumido por crimes não resolvidos, questionando o quanto de violência pode existir dentro de si mesmo.
A trama de Lobos
A história acompanha um jovem sem nome, interpretado por Mark Nocent, cuja vida é marcada pelo isolamento social e pela dificuldade de se conectar com outras pessoas. Sua rotina ganha uma nova direção quando ele descobre uma série de crimes envolvendo mutilações de animais em sua cidade, coberta por neve e silêncio.
A investigação informal logo se transforma em obsessão. O personagem passa a frequentar as cenas dos crimes, buscar informações em arquivos e assistir a entrevistas de especialistas que acreditam que a violência contra animais pode ser o início de algo muito mais grave — a escalada de um possível serial killer humano.
Entre pequenos delitos e relações superficiais, o protagonista caminha por uma linha tênue entre a curiosidade e o risco de se perder em sua própria escuridão. O suspense cresce na medida em que a trama sugere que o verdadeiro lobo que ele persegue pode estar dentro dele mesmo.
Realidade e ficção
O roteiro de Danny Dunlop foi inspirado em casos reais ocorridos em London, Ontário, onde animais foram encontrados brutalmente mortos em circunstâncias perturbadoras. Em vez de criar um thriller tradicional sobre investigação criminal, o diretor opta por explorar as implicações psicológicas desse tipo de obsessão, focando mais no impacto interno do protagonista do que no mistério em si.
Esse olhar subjetivo transforma Lobos em uma narrativa sobre identidade e solidão, em que o mistério externo funciona como reflexo do conflito íntimo de um homem que teme tornar-se aquilo que mais observa.
Atuação e construção do personagem sem nome
Mark Nocent assume o papel central com intensidade. Seu personagem não possui nome, o que reforça a ideia de que ele funciona como uma tela em branco, capaz de assumir diferentes máscaras sociais conforme a situação. Entre mentiras e manipulações, ele mantém uma vida em suspensão, como se estivesse à beira de se tornar aquilo que mais teme.
A ausência de diálogos longos é compensada pela fisicalidade e pela expressão de Nocent, que consegue transmitir tanto a vulnerabilidade quanto a sombra que habita seu personagem. Isso permite ao espectador sentir-se dividido entre empatia e repulsa, um equilíbrio que reforça o desconforto da narrativa.
Estilo e atmosfera
Visualmente, o longa se destaca pelo uso do inverno canadense como metáfora do isolamento. As ruas desertas, a neve que cobre cada espaço e os ambientes silenciosos criam uma sensação constante de vazio. Dunlop, que também assina a edição e contribui para a trilha sonora com Rachel Johnstone e Janice Kwan, constrói um clima de desconforto contínuo.
Esse estilo contemplativo, no entanto, exige paciência. Em muitos momentos, a câmera acompanha o protagonista apenas caminhando pela cidade ou observando pessoas de longe. O ritmo lento pode afastar quem espera um suspense tradicional, mas reforça a proposta de estudo de personagem.
Temas centrais de Wolves
Mais do que sobre crimes, Lobos é um filme sobre solidão, obsessão e a dualidade humana. O título remete à metáfora dos dois lobos que vivem dentro de cada indivíduo: o que caça e o que se esconde. Essa batalha interna permeia toda a jornada do protagonista, que oscila entre ser vítima de sua própria fragilidade ou ceder à violência que o atrai.
Ao mesmo tempo, o longa dialoga com a cultura contemporânea de interesse por crimes reais e investigações amadoras. O protagonista funciona como representação de um perfil específico de pessoas que mergulham nesse universo não apenas por curiosidade, mas para confrontar os próprios medos e inseguranças.
Crítica: Lobos é um bom filme de terror no Prime Video? Vale à pena assistir?
Lobos é uma obra que combina suspense e reflexão psicológica, com forte carga atmosférica e uma abordagem intimista. Seu ritmo lento pode não agradar a todos, mas a experiência ganha força ao explorar o lado mais obscuro da solidão e ao propor que a verdadeira ameaça pode vir de dentro.
No catálogo do Prime Video, o longa de Danny Dunlop se destaca como um estudo de personagem que utiliza o gênero policial para questionar a identidade humana e a tênue linha que separa o observador do predador.