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Lobisomem na Noite

Dezenas de anos antes dos super-heróis habitarem todas as salas de cinema do mundo, outros personagens faziam sucesso e garantiam fortuna para um grande estúdio. Os Monstros da Universal já possuíam o que hoje conhecemos como universo compartilhado. Drácula, Frankenstein, Múmia e tantos outros arrancavam sustos do público e despertavam pesadelos nos menos corajosos. Chega a ser poético que a maior franquia cinematográfica da história (ao menos em números) preste uma homenagem a esse passado glorioso em seu novo projeto. Lobisomem na Noite, primeira Apresentação Especial do Disney+, explora uma faceta do MCU que certamente terá mais espaço nos próximos anos. O sobrenatural vai de encontro aos maiores heróis da Terra.

Após a morte de Ulysses Bloodstone, os maiores caçadores de monstros do mundo reúnem-se para decidir quem será o novo portador da Pedra de Sangue, um poderoso artefato místico. Jack Russell (Gael García Bernal) é um desses escolhidos, ainda que esconda de todos o fato de ser uma criatura da noite. Seu caminho cruza com o de Elsa Bloodstone (Laura Donnelly) que renegou seu sobrenome por muitos anos e agora surge para reclamar seu direito ao legado da família. Não demora para que segredos sejam revelados e a carnificina tome conta do ambiente.

Quem espera um verdadeiro especial de terror certamente irá se decepcionar com o Lobisomem na Noite. O principal problema do projeto é nunca conseguir abraçar completamente sua vertente de horror. Focando muito mais na criação de um clima sugestivo do que necessariamente no espetáculo sangrento. Existe mais violência aqui do que na maior parte do MCU? Absolutamente. Membros são arrancados e sangue espirra na tela algumas vezes. Porém, tudo dentro das diretrizes de conteúdo do Disney+.

Famoso por sua carreira como compositor, o lendário Michael Giacchino assume a direção da história escrita por Heather Quinn e Peter Cameron. Ele claramente se diverte por trás das câmeras, aproveitando o espaço dado pela Marvel para a execução desse pequeno experimento. Ainda que sua pouca experiência como diretor reflita na falta de ambição de Lobisomem na Noite. Mesmo assim, a homenagem aos filmes antigos de monstros ainda é bastante eficiente. A fotografia predominantemente em preto e branco, alinhada com a trilha sonora, remontam ao clima característico do horror mais clássico. Reforço o lamento de que essa história ganharia rumos mais interessantes se estivesse livre das amarras tradicionais do MCU.

Se o terror propriamente dito acaba falhando, Lobisomem na Noite se sustenta pelo talento de seus principais personagens. Gael García Bernal brilha no papel de um homem atormentado por sua vida dupla. Ele entrega um charme cativante quando necessário mas sem esconder a fragilidade de sua condição. Laura Donnelly funciona muito bem como uma mistura de Van Helsing e Jessica Jones, superando seu arco clichê com uma espécie de carisma amargurado. Será interessante acompanhar a jornada da dupla no futuro, já que a Marvel dá indícios de que irá mesmo trilhar um caminho sobrenatural em suas histórias. Algo que remonta ao passado da própria editora. E como é divertido ter a presença do Homem-Coisa em tela,  como se pulasse diretamente das páginas dos quadrinhos.

Satisfeito com sua falta de ambição, Lobisomem na Noite não vai muito além de um sopro de novidade dentro do MCU. Admito que é revigorante poder assistir algo sem a necessidade de se preocupar constantemente em como cada cena irá reverberar em projetos futuros. Mas não deixo de pensar que essa poderia ser uma virada de chave ainda maior. No Halloween da Marvel, susto é o último item da lista.