Em determinada cena de La La Land – Cantando Estações, Keith (John Legend) conversa com Sebastian (Ryan Gosling) sobre o futuro do jazz. Ele afirma que o estilo musical está morrendo por causa dos tradicionalistas, como Sebastian, que insistem em parecer revolucionários ainda que se mantenham presos ao passado. Esse é um dos principais elementos do novo filme de Damien Chazelle.
La La Land presta uma linda homenagem aos musicais do passado, especialmente das décadas de 30 a 50, mas consegue se manter ligado ao atual cenário mercadológico de Hollywood. Afinal, com seus 32 anos, Damien Chazelle é um filho do cinema contemporâneo. Mas demonstra que consegue assimilar a carga histórica de um gênero tão importante e que enfrenta períodos de escassez de qualidade.
A trama acompanha as vidas de Sebastian (Ryan Gosling), um habilidoso músico que sonha em ter seu próprio clube de jazz, e Mia (Emma Stone), uma jovem atriz que busca um lugar ao sol enquanto trabalha como barista. No cenário inspirador de Los Angeles, eles correm atrás de seus sonhos e compartilham o peso dos fracassos e a alegria das conquistas. Ainda que não seja o grande destaque do longa, a história sabe utilizar seus clichês funcionais.
Ryan e Emma possuem uma química incrível – já testada em Amor a Toda Prova – mas que alcança um novo patamar aqui. Se formos comparar com as estrelas dos grandes musicais, que La La Land homenageia, a dupla faz um trabalho básico de canto e dança. Nada que se destaque, mas longe de comprometer a proposta do filme. Nas atuações, Ryan está ótimo com seus trejeitos e olhares profundos. Mas é Emma que realmente brilha, como se tudo fosse feito sob medida para ela. É impossível não ficar hipnotizado com seu talento e beleza. Nome certo na disputa pelo Oscar.
Mas é no aspecto técnico que La La Land mostra todo o seu poder. Paleta de cores, fotografia, direção de arte, técnicas de filmagem, tudo sendo utilizado em perfeita harmonia. Certamente estamos diante de um dos filmes mais lindos dos últimos anos. Tendo Los Angeles não apenas como pano de fundo, mas como um elemento ativo na história, o longa consegue captar boa parte da magia da cidade.
Damien Chazelle mostra porque é um dos grandes nomes do cinema atual, imprimindo originalidade em algo que poderia não passar de um apanhado de homenagens e referências. Assim como no excelente Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014), ele mais uma vez mostra seu amor pelo jazz, mas acrescentando toda a admiração pelos clássicos do passado. Alguém que consegue transitar tão bem entre núcleos distintos não nasce todo dia. Outro nome certo na disputa pelo Oscar.
Mas apesar de todo os aspecto de homenagem, La La Land pode desagradar quem espera um musical tradicional. Fora algumas sequências, uma no início e outra no final, tudo acontece de maneira mais orgânica. O que, por outro lado, pode cativar aqueles que já não tem tanto carinho pelo gênero. Apesar disso, o resultado final é equilibrado.
Trabalhando bem com a nostalgia e a inovação, La La Land é uma estrela que brilha no momento certo. Não é por menos que agradou a mídia especializada, os saudosistas e aqueles mais acostumados com a modernidade. E foi vencendo prêmios por onde passou. Um forte candidato para a noite do Oscar.