Joyland é boa pedida para o leitor entrar no mundo de Stephen King
O Iluminado, À Espera de Um Milagre, Um Sonho de Liberdade. Sim, são obras de Stephen King, renomado autor e recordista de vendas no que diz respeito à histórias de horror fantástico e ficção. Todos os dias esse cara tem sua obra recomendada por alguém, e vez ou outra seus pitacos na obra alheia causam impacto (como na série LOST), afinal King é um cara com moral e nada mais justo que ele ganhe seus fãs.
A verdade é que nunca tinha lido nada desse sujeito. Não por preconceito, muito menos por falta de indicação. Apenas não li, e é compreensível que essa pequena pulga tenha me irritado durante alguns anos. Eis que me deparo com Joyland, obra de 2013 que só agora chega ao Brasil, pela bagatela de R$24,90 na Livraria Cultura do Shopping Bourbon (São Paulo – SP). Capa bonita, sinopse agradável, e o preço acessível. Essa combinação me convenceu e fui pra casa conferir quem é esse Stephen King quando escreve.
Carolina do Norte, 1973. O universitário Devin Jones começa um trabalho temporário no parque Joyland, esperando esquecer a namorada que partiu seu coração. Mas é outra garota que acaba mudando seu mundo para sempre: a vítima de um serial killer. Linda Grey foi morta no parque há anos, e diz a lenda que seu espírito ainda assombra o trem fantasma. Não demora para que Devin embarque em sua própria investigação, tentando juntar as pontas soltas do caso. O destino de uma criança e a realidade sombria da vida vêm à tona neste eletrizante mistério sobre amar e perder, sobre crescer e envelhecer — e sobre aqueles que sequer tiveram a chance de passar por essas experiências porque a morte lhes chegou cedo demais.
Joyland possui linguagem própria sem exigir do leitor curso de idioma para que o mesmo absorva sua mensagem. Isso vai desde slogans bem desenvolvidos como “nós vendemos diversão”, definições como “alma de parque” e até o Colóquio, idioma próprio de Joyland usado para fins diversos como categorizar os visitantes (Bobs, por exemplo). Para os chatolóides de plantão que viriam a atormentar o escritor dizendo que tais coisas “não existem na vida real dos parques”, Stephen King avisa nos agradecimentos do livro para que não se sintam alarmados pois trata-se de uma obra de ficção.
Tudo para nos sentirmos num autentico parque. A ambientação é muito prática apesar de não possuir extrema riqueza em detalhes, algo acertado pois seria enfadonho saber de fato como funciona cada máquina de forma minuciosa, certo? Basta que nosso protagonista Devin Jones coloque “a fantasia” para que sejamos capazes de compreender e sentir o calor abafado, a satisfação e loucura de interagir com uma “horda” de crianças e a pressa pela necessidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Haja fôlego para o mascote Howie. Mesmo soando clichê, o clímax final no parque se justifica e ganha créditos pela bizarrice.
O mistério acaba sendo o ponto mais fraco de Joyland. É como se a parte fantasmagórica da trama fosse contada por um primo nosso que não possui muita aptidão para assustar. Mas essa vertente (junto com a investigativa, que é melhor elaborada) fica em segundo plano quando nos referimos aos personagens. Comnarrativa atemporal, King vai traçando a trajetória deles de forma marcante. Podemos destacar nesse bolo o protagonista que constantemente lida com a perda gradativa do primeiro amor, além de outros como o sensível Mike e sua mão Annie, sem contar a “Garota de Hollywood” que dá capa ao livro.
Sendo assim, Joyland é uma boa história sobre diversão e tristeza com ganho e perda que você irá desfrutar rapidamente e com chance de refletir a respeito por alguns dias. Mas é uma tristeza gostosa, daquelas que nos dá saudades do primeiro amor, ou de algum verão específico quando tudo parecia mais simples. Pode não ser uma grande obra do autor, mas para não iniciados em Stephen King, Joyland é o ideal.
ISBN: 9788581052984
Tradução: Regiane Winarski
Ano de Lançamento: 2015
Número de Páginas: 240
Editora: Suma de Letras