Jay Kelly, novo filme da Netflix dirigido e coescrito por Noah Baumbach, chega ao catálogo cercado de expectativas. A produção reúne George Clooney e Adam Sandler em um projeto que mistura comédia dramática, crise existencial e reflexões sobre o desgaste provocado pela fama. A premissa posiciona o longa como um possível destaque da plataforma, mas o resultado é irregular, ainda que sustentado por atuações fortes de seu elenco. Confira a crítica:
A narrativa acompanha Jay Kelly, interpretado por Clooney, um astro veterano que parece existir apenas diante das câmeras. Logo na abertura, o público o encontra filmando uma cena de morte em um set noir — um momento que, simbolicamente, ecoa a própria desconexão do personagem com sua vida real. Aos poucos, Jay passa a encarar a dificuldade de separar sua identidade pública da pessoal, algo agravado por décadas de carreira, compromissos e relações desgastadas.
Esse esvaziamento aparece no relacionamento dele com Ron Sukenick (Adam Sandler), seu empresário de longa data. Ron e a assessora Liz (Laura Dern) sustentam a imagem de Jay há trinta anos, mas também vivem presos ao ritmo caótico do astro, sempre obrigados a reorganizar suas agendas para atender às vontades dele. A dinâmica evidencia um ciclo de dependência no qual ninguém parece saber se é amigo ou funcionário.
A trajetória de Jay sofre um abalo quando ele reencontra Tim (Billy Crudup), antigo colega das aulas de atuação. O passado expõe escolhas moralmente duvidosas que pavimentaram a fama de Jay, enquanto Tim permaneceu relegado ao anonimato. O conflito entre os dois culmina em agressões e traz à superfície a culpa que Jay tenta ignorar há décadas.
Paralelamente, o personagem tenta se reconectar com a filha Daisy (Grace Edwards), prestes a viajar com os amigos após concluir o ensino médio. A decisão impulsiva de segui-la até a Europa cria a espinha dorsal da trama. Jay, Daisy, Ron, Liz e a equipe acabam embarcando no mesmo trem rumo ao continente, onde o ator participará de uma homenagem antes de iniciar um novo trabalho.
Durante a viagem, Jay revisita memórias, fracassos e arrependimentos. Baumbach intercala flashbacks que mostram momentos decisivos da carreira e da vida pessoal do protagonista, revelando a distância que ele criou entre si e as pessoas ao seu redor. O diretor se aproxima de um estilo mais onírico, buscando referências ao cinema europeu, mas a abordagem acaba oscilando entre o sentimentalismo e observações menos afiadas sobre celebridade e identidade.

Esse equilíbrio irregular afeta a condução dos personagens secundários. Figuras como Liz, interpretada por Laura Dern, e a esposa de Ron, vivida por Greta Gerwig, aparecem pouco desenvolvidas, o que dilui parte do potencial dramático do elenco. Mesmo assim, Clooney e Sandler entregam momentos de grande força, especialmente nos diálogos que revelam o desgaste emocional acumulado por anos de convivência.
Apesar dos tropeços, Jay Kelly encontra ressonância em sua leitura sobre envelhecimento, ambição e reinvenção. Clooney entrega uma performance carregada de autoconsciência, navegando entre humor e vulnerabilidade. Baumbach, mesmo menos incisivo que em trabalhos anteriores, constrói um retrato interessado na complexidade de uma vida vivida em função do olhar alheio.
Crítica: vale á pena assistir Jay Kelly na Netflix?
O resultado é um filme que não alcança todo o potencial sugerido por seus nomes envolvidos, mas que mantém o espectador atento graças ao peso dramático de seu protagonista e à dinâmica estabelecida com Sandler. Para quem acompanha o cinema de Baumbach ou a carreira de Clooney, Jay Kelly vale a visita.