Iron Maiden, uma das maiores bandas de heavy metal da história, se não a maior, lançou em 22 de março de 1982 um dos seus maiores sucessos, não só de vendas, mas de composição, o clássico “The Number Of The Beast“. Um disco que trouxe canções que se tornaram hinos do estilo, e que participam do repertório da banda até hoje: Run To The Hills, The Number Of the Beast, Children Of The Damned, e que está levando parte do título do post, Hallowed Be Thy Name.
A audição é um dos mais preciosos sentidos na vida de um ser humano, e isso não é segredo para ninguém, que a música é um dos maiores estímulos que temos, capaz de nos levar a pontos extremos emocionais em pouco tempo, da felicidade à tristeza, da tristeza à felicidade. Capaz de nos animar, de nos fazer correr, de entendermos melhor as coisas. Uma das mais genuínas e bonitas formas de expressão artística que existe. Tendo isso em vista, eis que o Iron Maiden não fica de fora dessa definição.
Em “Hallowed Be Thy Name“, entramos num cenário onde um herege da inquisição está a beira da morte, à frente da porta de sua execução, contemplando seus últimos momentos antes do sono eterno e do abraço frio e sem preconceito do “único mal irremediável“. Começa então os primeiros acordes, com um som limpo, criando a tensão, o mistério. São notas frias, que logo em seguida, o vocal de Bruce nos situa, o personagem está em uma cela gélida, refletindo e narrando os eventos seguintes que o esperam. Uma corda, uma forca.
I’m waiting in my cold cell when the bell begins to chime
Reflecting on my past life and it doesn’t have much time
Cause at 5 o’clock, they take me to the Gallows Pole
The sands of time for me are running low, yeah
Os últimos olhares, as últimas visões de uma vida, a relutância entre aceitar a verdade ou se perguntar se o que acontece está sendo um sonho. O ser humano carrega consigo a ciência de que a morte é a única verdade certa da vida, mas a afasta e não a aceita. Sempre procurando um motivo para que o evento se torne menos doloroso ou menos impactante. Todo essas questões são passadas através da letra e da melodia que Harris compôs.
When the priest comes to read me the last rites
I take a look through the bars at the last sights
Of a world that has gone very wrong for me
Can it be that there’s some sort of error
Hard to stop the surmounting terror
Is it really the end, not some crazy dream?
Está se desprendendo do mundo, perdendo a vida, deixando tudo que você conhece, é talvez um sentimento que só consigamos conjecturar sobre. Talvez, não existam palavras para dizer antes do momento final, e se houvesse/houver alguma, elas não consigam sair da boca, elas fugiriam. Não há como traduzir um último momento, um momento de adeus. A amálgama de sentimentos sintetizam em lágrimas e no desespero, ungido de uma súbita coragem proveniente de orgulho…talvez?
Somebody please tell me that I’m dreaming
It’s not easy to stop from screaming
The words escape me when I try to speak
Tears flow, but why am I crying
After all I’m not afraid of dying
Don’t I believe that there never is an end
Onde estariam nossas crenças nesse momento? Existe de fato uma verdade absoluta do outro lado, ou só o pó e as cinzas nos esperam? Talvez uma forma menos cruel de enxergar o fim. Talvez o dito popular, de sua vida inteira passando bem em frente aos seus olhos, seja mais uma metáfora de auto reflexão, o que fez com o seu tempo, se foi realmente útil, o que está deixando de legado. Mas apesar de tudo, não há o porque de se desculpar. Sua alma está o deixando.
As the guards march me out to the courtyard
Somebody cries from a cell God be with you
If there’s a God then why has he let me go?
As I walk all my life drifts before me
And though the end is near I’m not sorry
Catch my soul, it’s willing to fly away
Conformado, assume para si uma razão para se dar por vencido e deitar-se no leito eterno. Está a frente de ver uma verdade, uma verdade que nem exista, mas é o suficiente para acalmar o desespero de uma alma alarmada e sem mais caminhos para seguir. A vida na terra, não passa de uma mera ilusão, e o que realmente importa é o que está adiante. Mas se isso fosse a real motivação, porque o desespero?
Mark my words, believe my soul lives on
Don’t worry now that I have gone
I’ve gone beyond to seek the truth
When you know that your time is close at hand
Maybe then you’ll begin to understand
Life down here is just a strange illusion
Em que melhor situação para nos questionarmos do que em nossa morte? É toda essa sensação que “Hallowed Be Thy Name” traduz em forma de música, somada a inigualável interpretação de Bruce Dickinson, traz. Uma cansão extremamente poderosa, para profissionais do ramo, não é um som difícil de ser tocado, mas esse não é o ponto. Iron Maiden é conhecido por suas letras contarem uma história, e essa, em minha humilde opinião, é a mais forte e impactante de todas. Se alguém me perguntar como deve ser a morte, eu certamente mostraria essa canção. Ou não, talvez tudo isso seja uma estranha ilusão…
Santificado Seja o Vosso Nome
Arte da imagem destacada por Wisley Rodrigues
https://www.youtube.com/watch?v=J51LPlP-s9o