Se tem algo que eu viro a cara automaticamente nesta indústria de jogos eletrônicos é o fotorrealismo. Eu já olho pro mundo real o dia todo, sabe? O meu sonho é sempre começar um jogo novo e parecer que eu estou controlando um desenho animado. Então você deve entender o quão feliz eu fiquei com o anúncio de Irmão do Jorel e o Jogo Mais Importante da Galáxia. Não é todo dia que um desenho animado vira jogo pela primeira vez, muito menos um sucesso brasileiro como é essa série. Eu não cheguei a ver mais que alguns episódios, mas o humor e a alma brasileira ficaram na minha memória.
Agora no mundo dos jogos, o Irmão do Jorel está estrelando um jogo de aventura point-and-click 100% nacional, inspirados por outros clássicos do gênero como Monkey Island e Grim Fandango. A história do jogo foi quebrada em 3 capítulos, com o primeiro já disponível e os demais vindo ao longo do ano de 2023. No primeiro capítulo, videogames misteriosos aparecem pela cidade e o Irmão do Jorel precisa achar um jeito de conseguir jogá-lo.
A primeira impressão clara é a do já citado visual, que é praticamente como se você realmente estivesse assistindo a um episódio interativo da série. Acho que se alguém passasse do meu lado enquanto eu jogava, a pessoa acharia que eu estava assistindo à animação do Copa Studio. Dos personagens aos detalhes dos cenários é fácil ver o carinho dos desenvolvedores e o envolvimento da produtora do desenho. É sempre legal ver jogos bem localizados para português, mas ver um mundo criado a partir da nossa cultura com tanto zelo e poder interagir com ele é surreal.
Mas enquanto os olhos se deleitam, os ouvidos ficam tristes… Vindo de um desenho animado com vozes tão características, o jogo não tem nada de dublagem, em nenhum momento. Na verdade, ele mal tem efeitos sonoros, é só a música de fundo enquanto os diálogos aparecem escritos na tela. Não me entenda mal: os diálogos são muito bem-feitos e engraçados, mas é uma quebra de expectativa muito triste quando percebi que estava jogando um “filme mudo”. Definitivamente, é algo que eu espero que os próximos capítulos tragam, nem que sejam apenas em momentos-chave da trama.
Expectativas frustradas também não foram só na parte de ambientação, mas o gameplay aqui é muito mais básico do que eu esperava, ao ponto de que eu recomendaria ele facilmente como o “seu primeiro point-and-click”. Os puzzles e as interações são extremamente simples, reduzindo ao “pegar item de um lugar e levar pro outro”, e os colecionáveis extras demandam mais a exaustão dos objetos dos cenários do que usá-los de forma inteligente. Até mesmo os minigames são bem raros e não trazem tanta mudança pro jogo. Mesmo com a duração pequena do capítulo, dá pra sentir falta de mais variedade.
Com isso, eu fiquei até pensando o quanto o jogo deve ter visado um público mais infantil, que talvez não conheça o estilo de jogo, dado o quanto Irmão do Jorel é um desenho conhecido (também) entre as crianças. Mas, a falta de dublagem seria uma falha crucial para alcançar esse objetivo. No fim, imagino que só foi um foco do time de desenvolvedores em ter a referência visual muito bem feita (e conseguiram) ao preço de dinâmicas interativas bem mais simples, que acabam ficando bem aquém dos clássicos que os inspiraram.
Não é que Irmão do Jorel e o Jogo Mais Importante da Galáxia seja um jogo ruim. Longe disso, na verdade! Principalmente se conhece e gosta do desenho, vão ser ali duas horinhas que você vai viver naquele mundinho por mais um pouco e se divertir. Mas é difícil não perceber o potencial perdido que está ali: um jogo licenciado de uma das maiores produções nacionais dos últimos tempos, com um mundo tão interessante e que não consegue mostrar todo esse carisma pelo trabalho sonoro quase inexistente e as mecânicas mais simplórias. Fico no aguardo para os próximos capítulos ainda com um pouquinho de empolgação, mas, se continuar assim, só Steve Magal pra salvar essa aventura.
O primeiro capítulo de Irmão do Jorel e o Jogo Mais Importante da Galáxia, Assumindo o Controle, está disponível para PC na Steam, para dispositivos Android no Google Play e para iPhone e iPad na App Store.
*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.