Infinity Pool Infinity Pool

Infinity Pool

Infinity Pool se lança como uma das maiores promessas de Brandon Cronenberg para o gênero de terror. O diretor, que já fez Possessor e Antiviral, se utilizou do mesmo estilo técnico para explorar a aflição dos personagens. Porém, nessa grande piscina, o infinito é questão de minutos até chegar ao tédio. Mas peço encarecidamente que observem o brilhantismo de Mia Goth.

Com takes detalhados e uma narrativa espessa, Infinity Pool consegue muito bem dar boas pinceladas no quadro do terror, sem deixar margem para concorrência no quesito medo. A trama começa bem elaborada, porém se perde em uma história que não se sustenta e abre caminhos de desatenção no espectador. Além disso, Cronenberg, por mais que reaproveite uma ideia já batida de forma perspicaz, parece querer falar mais do que conseguiu mostrar em quase 2 horas de filme.

No longa, o casal James (Alexander Skarsgård) e Em Foster (Cleopatra Coleman) viajam para aproveitar as férias na ilha fictícia de La Tolqa, lar de praias paradisíacas e cenários divinos. Lá, eles se deparam com Gabi (Mia Goth) e Alban (Jalil Lespert), um casal diferente que aborda os protagonistas com novas propostas em torno de uma ilha onde nem tudo é muito bem explicado.

Para fins de contexto, a trama dá seu start em um passeio de casais, quando James acaba atropelando um morador local. Apesar do caos e do falso abafamento da notícia, os quatro turistas são punidos pelo governo com uma execução. Porém, por meios menos burocráticos, os oficiais mostram que eles têm a opção de criar um clone para morrer no lugar de cada um deles.

Logo, o foco em James começa a tomar mais forma, revelando uma personalidade confusa e medrosa de um homem que depende 100% de sua mulher. Consequentemente, depois do incidente que muda a vida do casal, conseguimos já ressaltar a grandeza e a violência da personalidade de cada um dentro da história. Assim, as consequências de serem executados pelo governo local por terem cometido um crime começa a gerar monstros soberbos que dominam as cenas.

Neste momento, Mia Goth começa a nos guiar por uma aventura nada ortodoxa dentro do gênero de terror. A atriz assume quase que um protagonismo dentro da jornada da pura existência da bestialidade humana, que abre palco para uma sequência de atrocidades. Infinity Pool rebaixa o homem (principalmente James) a uma condição animalesca, em que seus instintos gritam mais alto que a racionalidade de viver em sociedade. Sendo assim, a trama consegue emoldurar tudo aquilo que é mais repugnante em uma sociedade: ricos menosprezando as leis e saindo por cima em um sistema corrupto.

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Brandon, filho do icônico David Cronenberg, brinca com a atenção do espectador a todo momento, usando de altos e baixos nos recursos de horror/terror. O diretor consegue alinhar muito bem uma ciranda com seus personagens, formando um circo de desgaste mental em quem assiste.

Primeiramente, Infinity Pool consegue, de forma abstrata, se dividir em dois atos. O ato inicial relata as explicações mais detalhadas do sistema de horror que vai se tratar o próximo ato. Logo, assim que Cleopatra Coleman sai de cena, o personagem de Alexander Skarsgård se entrega ao mais puro luxo do pecado banhado por sangue. Assim, o conceito de violência é escancarado aqui, oferecendo de forma explícita a violência brutal irracional e o desejo sexual de uma besta.

Nas cenas adiante, os personagens convencem James a tomar as mais bizarras atitudes, fazendo com que ele encontre sua pior versão em um momento em que ele não podia contar com nenhuma. A trama desenvolve muito bem as vertentes visuais e sonoras que fazem parte da experiência de quem assiste. Sendo assim, momentos de assassinato, sangue, violência e alucinações são perfeitamente elaborados e contribuem para o desconforto de quem não esperava por nada daquilo.

Apesar da bela atuação de todo o elenco, Mia Goth se torna uma líder para mostrar que terror precisa de alguém para guiar. A atriz, que se revelou um sucesso nos filmes do gênero, faz muito bem seu personagem e entrega uma das melhores atuações da carreira. Desta maneira, Infinity Pool conta com o elemento de uma scream girl para ser menos monótono numa narrativa que, sem ela, não teria o mesmo impacto.

O diretor parece esconder coisas demais conforme o filme vai chegando ao final. Embora tudo seja muito explícito, David Cronenberg mistura em seu roteiro muitas pautas que aparecem apenas como alfinetes. Assim, o banho de sangue tem um sabor justificável, que não deixa tudo tão fora da realidade, conforme vamos avaliando as atitudes dos personagens. Porém, os 20 minutos finais parecem faltar um pouco de tato para um filme que gastou muita elaboração no seu conceito.

Apesar de ser sexy, chocante e deslumbrante (a ponto de causar arrepios de medo), a edição de Infinity Pool atrapalha em alguns momentos. O descarte dos personagens parece ser proposital, mas não deixa de incomodar quem está abismado com atitudes insanas. O estrelismo de Mia é de aplaudir em pé, mas faz você se perguntar o motivo dela ofuscar tanto algumas histórias que deveriam engolir James durante a narrativa.

Entretanto, os detalhes mais críticos não atrapalham a experiência dada por Infinity Pool. O filme te transporta para um universo hipnotizante, onde você pode se ver no espelho ou fazer um número infinito de metáforas com a realidade. Mais uma vez, a família Cronenberg honra seu sobrenome com a marca de atores que se banham em sangue pela narrativa.