Indiana Jones sempre foi o meu maior herói dos cinemas. Tendo vivido minha infância nos anos de 1980, lembro de ver e rever seus filmes no videocassete para depois recriar suas aventuras com meus Comandos em Ação no chão do quarto. Ou mesmo criar obstáculos em casa e, com uma roupa improvisada que, na minha imaginação, parecia com a do personagem, procurar um cobiçado “tesouro arqueológico” escondido (por mim) em algum lugar. Depois de assistir incansavelmente os dois primeiros filmes, essa forte relação com o personagem foi coroada com o privilégio de ver no cinema Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) na companhia do meu pai. Ironicamente, o filme, que passou a se tornar o meu preferido, trazia como coração a relação de Indy e seu velho pai. Essa, certamente, uma das minhas maiores experiências dentro da sala escura.
Chegamos em 2023 e, novamente, eu tenho a oportunidade de reencontrar esse velho amigo no mesmo lugar onde já foi tão marcante pra mim. Alguns anos atrás – mais precisamente em 2008 –, ele fez um aceno em A Caveira de Cristal, mas parecia um tanto desconectado daquele Indy que me visitava sempre na infância. A promessa agora, com Indiana Jones e a Relíquia do Destino, era de rever aquele mesmo herói, agora bem mais velho, mas que em essência saltava de uma trilogia que forjou as bases de todo o meu amor pela Sétima Arte.
Vinha alimentando expectativas desde as primeiras imagens que chegaram na internet e tudo parecia muito promissor. Até a saída do mago Steven Spielberg (que derrapou no filme anterior) para dar vez à visão de um novo diretor (James Mangold, de Logan) parecia algo calculadamente acertado, com o intuito de encontrar a melhor forma de dar um capítulo final digno da grandeza do maior arqueólogo das telas.
O que posso dizer, e o que me conquistou de imediato, é que o quinto capítulo da franquia é afiado ao trazer como tema principal o confronto entre o velho e o novo. Passando-se agora em 1969, revemos Indiana envelhecido e longe das buscas por artefatos do passado enquanto o mundo comemora a chegada do homem à Lua – o olhar está voltado para o futuro.
O tema, nada inédito, me lembrou o último capítulo de Rocky Balboa nas telas. Algo que ali foi executado de forma brilhante, dando o final mais digno possível para a franquia do Garanhão Italiano. Em A Relíquia do Destino, temos uma louvável tentativa de também explorar esse aspecto do personagem, mas que ao final entrega algo irregular. Destacando em seu início que estamos diante de um personagem sem o mesmo vigor, é frustrante que isso não seja melhor explorado ao longo do filme. Ao vestir novamente seu manto de herói, Indy, que no longa é retratado na casa dos 70 e poucos anos (Harrison Ford tem atualmente 81), não parece sentir muito o peso da idade.
Não é nenhuma grande revelação saber que existiu uma pressão da Disney para que Indiana Jones alcançasse também novos públicos. Muito se especulou sobre uma possível substituição de Ford por alguém mais jovem. O que, falando como um fã da franquia, ainda bem que não aconteceu. A aposta – algo que, em números, atingiu a casa dos US$ 295 milhões de orçamento – era de se apoiar no nome do personagem e no carisma do astro Harrison Ford. Acontece que a produção do longa entendeu que precisaríamos ver um velho Indiana chutando bundas e fazendo tudo mais que pede a cartilha de um filme de ação/aventura. Só não se considerou na equação a difícil empreitada de competir – sem encontrar algo que verdadeiramente diferencie o filme – com novos heróis da Cultura Pop (muitos deles inspirados no próprio Indiana), que hoje estão muito mais identificados com o público desta geração.
Deixando outras questões relacionadas ao filme de lado – para isso você pode ler a crítica do site –, o quinto e último capítulo de Indiana Jones, mesmo irregular – e, em diversos momentos, esticando demais a baladeira na nossa suspensão de descrença – é infinitamente melhor que seu antecessor. Mexendo os pauzinhos certos, o longa tinha muito apelo para me tocar profundamente, mas acabou não alcançando essa nota. Ainda assim, a experiência de rever meu saudoso herói na tela grande, desta vez sem meu pai, mas na companhia de meu sobrinho de 11 anos – que, em breve, estará indo morar em outro país, acentuando o clima de despedida –, numa aventura que não agride o legado do velho Indiana, foi muito satisfatória, e, em cenas pontuais, até emocionante.
O que fica disso tudo é que envelhecer não é fácil. Com pouco apelo para uma nova geração – cheguei a presenciar na sessão três garotos trocando o filme por um joguinho no celular –, Indy, e tantos outros heróis do passado, vão continuar usufruindo de suas imortalidades, mas esse eco só ganhará mesmo ressonância no coração de quem realmente ama esses personagens.