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Ikenfell

Vivemos em uma época em que personagens LGBTQI+ estão sendo melhor representados em obras midiáticas. Mas, apesar de termos grandes companhias se aproveitando dessa onda para lucrar, ainda temos obras mais independentes contando dessas histórias de forma mais responsável. Ikenfell, desenvolvido pela Happy Ray Games e lançado pela Humble Games, traz uma história envolvente e cheia de diversidade. Confira a crítica sem spoilers a seguir.

Do que se trata Ikenfell?

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Ikenfell é o nome de uma escola de magia que está passando por uma crise. A magia do mundo parece estar fora de controle, influenciando criaturas e os magos ao seu redor. Você controla Maritte, uma jovem “comum” que acaba ganhando poderes mágicos ao visitar a escola em busca de sua irmã desaparecida. Na sua jornada, ela vai desvendar o que está acontecendo na escola, contando com a ajuda de novos amigos para isso.

O jogo é um RPG tático com um escopo reduzido. Os mapas de batalha são sempre em um grid de 12×3 quadrados, sem obstáculos ou variações. O que vai mudar de luta para luta são as áreas dos ataque de seus personagens e dos inimigos. É muito interessante que mesmo sem uma variação de mapa, os combates ficam diversos e estratégicos o suficiente. Apesar de ser um jogo somente com magos, cada personagem tem uma especialidade diferente como dando em área ou cura.

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Para deixar o combate mais dinâmico, você deve acertar o botão na hora certa para causar mais dano ou evitar ataques. Cada ataque que você realiza e sofre tem um padrão diferente, então fica um pouco difícil de lembrar cada um. As variações de dano se você acertar ou errar o timing são bem grandes, então é algo que faz diferença no campo de batalha. Felizmente, o jogo oferece boas opções de acessibilidade para remover isso e até mesmo para ganhar batalhas automaticamente. Apesar de achar essa mecânica do timing um pouco frustrante, eu mantive por todo meu gameplay por achar mais desafiante e divertido.

Por falar em acessibilidade, o jogo possui uma dificuldade bem branda. Cheio de checkpoints e saves espalhados pelo cenário. Por falar nisso, você salva o jogo fazendo carinho em gatos. Perfeito. As lutas contra inimigos comuns são opcionais mas cuidado, pois se não evoluir bem seus personagens você vai sofrer pra vencer os chefes. Outro problema que encontrei é uma escolha horrível de esconder a vida dos inimigos. Existe uma forma de ver isso no combate mas é tão escondido que só fui usar no final do jogo. Esse tipo de informação é essencial para um RPG tático e deveria mostrar logo de cara. A navegação pelo mapa possui alguns itens escondidos e alguns puzzle meio chatos de vez em quando, mas nada muito complexo.

História fofa e intrigante

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A história do jogo é outro ponto acertado. Existe um mistério inicial e é divertido acompanhar a história se desenrolando através de flashbacks e interação entre os personagens. Falando neles, existe um ótimo desenvolvimento dos protagonistas, cada um com seus conflitos e traços de personalidade. Às vezes é um pouco clichê e em alguns momentos os problemas apresentados são muito de “adolescente”. Mas a forma cuidadosa, fofa e bem escrita como a história se desenrola acaba apagando esses problemas. Todos, inclusive os “vilões”, possuem suas motivações para agir da forma como agem. Nem todos tem um desenvolvimento tão bom assim mas é de se esperar de um jogo com um escopo pequeno.

A forma como o jogo trata de diversidade e representatividade é bem legal também. Existem personagens LGBT, não-binários, negros e mulheres de montão e tudo isso é tratado com a maior facilidade e simplicidade possível. Só tive um probleminha com um pronome neutro em inglês que eu não conhecia e que me deixou muito confuso. Acho super válido usar pronomes neutros para alguns personagens mas gostaria que houvesse uma pequena explicação antes para evitar a confusão. Por falar em avisos, você pode ativar avisos de gatilho no jogo, que vão lhe apontar quando temas sensíveis podem aparecer. Eu joguei sem isso e não senti que teve nenhum tema pesado demais. 

A história e seus personagens são muito bem representados pela pixel art fofa e ótima trilha sonora (composta pela mesma equipe de Steven Universe). A arte não é a mais incrível do mundo mas é retro e colorida o suficiente para encaixar na história e gameplay. As músicas são ótimas, incluindo até temas  de personagens em estilo pop ou rap com vocalistas, algo bem inusitado para um RPG tático mas muito bem-vindo. 

Ikenfell: Veredito

Ikenfell é um jogo cheio de coração. Ele conta uma história sobre amizade, confiança e conflitos internos de uma forma fofa e responsável. O seu combate é simples mas oferece opções estratégicas válidas o suficiente para te deixar interessado. É um jogo que conversa bastante com a cultura queer e gay mas eu como homem hétero cis me diverti e até me emocionei um pouco. No final me deu uma saudade daqueles personagens e vontade de vê-los novamente em outra aventura.