5ª temporada de House of Cards finca bandeira como a primeira e melhor série original Netflix e marca importante transição na relação dos Underwood
Spoilers à seguir
Não dá pra dizer que House of Cards não entrega o que promete. Ao final da excelente quarta temporada, vimos Frank e Claire Underwood (Kevin Spacey e Robin Wright) encurralados frente a graves acusações contra o presidente, principalmente por crimes cometidos na primeira temporada da série. Para essa nova leva de episódios na Netflix foi prometido uma guerra, mas não é exatamente o tipo de batalha que estamos acostumados a ver.
O quinto ano de House of Cards se desdobra em três atos principais. Começa pela corrida eleitoral pelas vias normais da democracia estadunidense, seguido pela batalha por votos na câmara e concluída com a manobra para por Claire no poder.
Tá difícil competir
Por se tratar de um drama político, as comparações com a situação mundial é inevitável. Não apenas nos EUA, onde uma figura extremamente polêmica foi eleita, mas até aqui no Brasil podemos traçar diversos paralelos: o golpe para chegar ao poder, a falta de legitimidade para exercer o cargo (culminando em pouco apoio político) e a iminente queda por crimes cometidos, seja através de impeachment ou pela renúncia. O lado triste é que em House of Cards é tudo ficção.
Novos jogadores surgem na mais do que suja mesa de cartas de House of Cards para essa quinta temporada. Começando por Mark Usher (Campbell Scott), chamado às pressas para apoiar a campanha do rival de Frank, uma figura interessantíssima. Assim como Jane Davis (Patricia Clarkson), personagem ligada a Catherine Durant (Jayne Atkinson), que chega de forma tímida, mas um enorme mistério quando questionamos suas intenções. Isso dá uma indevida saturação à série, pois sobe o número de personagens de intenções não declaradas, e o roteiro não dá ao espectador todas as pistas afim de estabelecer vínculos.
Falando na Cathy, foi ridícula a solução encontrada para tirar ela de cena por um tempo. Empurrar alguém da escada quando não se sabe mais como lidar no roteiro é algo digno das piores novelas da TV latino-americana, um verdadeiro Deus ex-machina.
Will Conway foi uma dessas figuras, desperdiçado na reta final. Joel Kinnaman, que não se destaca por ser o mais plural dos atores, conseguiu encontrar um personagem bem interessante em House of Cards e poderia ter sido bem mais explorado e aprofundado (algo que já estava acontecendo). A série precisará desse tipo de coisa se quiser longevidade na Netflix, afinal, não é justo depositar toda a trama no colo dos Underwood, muito menos transformar figuras promissoras em muleta narrativa.
Tirando esses tropeços, House of Cards continua excelente. A dinâmica entre Claire e Frank ainda é o melhor aqui, e com muita astúcia o roteiro vai indicando aos poucos que teremos Claire assumindo o posto de presidenta, não apenas como tampão ou fantoche de outros poderosos (como é esperado por alguns), mas de acordo com tudo que a série mostrou da personagem até aqui. Ao mesmo tempo, pode ser uma boa oportunidade levar as atuações de Kevin Spacey ainda mais para os bastidores na iniciativa privada, como é o indicado. Essa temporada entregou a guerra prometida mas, muito além disso, foi um momento de transição na relação entre o casal mais perigoso da atualidade. Aos poucos, Robin Wright está fazendo o mesmo que Spacey: a quebra da quarta parede.
Com elogiável regularidade, a série House of Cards consegue se manter no topo de qualidade entre os originais Netflix desde sua estreia, em 2013. Da primeira cena, com Frank Underwood sacrificando um cachorro enquanto faz um excelente monólogo, até a última com o sútil e poderoso “minha vez” de Claire, fica a dúvida de como e se House of Cards conseguirá se manter interessante.