Jogos de corrida são uma figurinha carimbada em qualquer plataforma, mas eu, particularmente, nunca tinha encontrado um que gostasse de jogar no celular até Horizon Chase aparecer em 2015. Feito pela brasileira Aquiris e com inspirações mecânicas e estilísticas em Top Gear, sua qualidade trouxe sucesso e reconhecimento, até mesmo em sua versão Turbo para consoles. Mas o que uma sequência poderia agregar para essa experiência? Horizon Chase 2, antes exclusivo de Apple Arcade e hoje disponível no PC e no Switch, tem acertos e erros em sua nova busca pelo horizonte.
Em sua proposta, ele continua bem parecido com seu antecessor: um jogo de corrida arcade com controles simples e pistas que representam diversos lugares do mundo, com um foco em coletáveis durante as corridas e um certo grau de personalização dos carros. Todos os jogos da série poderiam ter essa mesma descrição, e Horizon Chase 2 não é diferente, mas todos esses elementos foram alterados para uma experiência diferenciada, que acerta em distintos graus de intensidade para formar um jogo diferente, mas não necessariamente melhor.
O primeiro baque, com certeza, é visual. Mesmo que esteja longe do realista e ainda seja bem estilizado, Horizon Chase 2 deixa pra trás o low-poly, que lembrava uma expansão dos jogos de Super Nintendo para cenários bem mais ricos em detalhes, com muito mais objetos nas pistas, ajudando ainda mais a criar uma sensação de viagem ao redor do globo. A Copa do Brasil, por exemplo, é um show de beleza, com cenários que vão ao Carnaval de Olinda, passando pelo Natal em Gramado, e até correr entre as turbinas de Itaipú. Infelizmente, mais detalhes não compensam a falta de inspiração de alguns cenários, como as dezenas de “fase na areia” que formam a Copa do Marrocos, por exemplo.
Falando em copas, a estrutura do modo Volta ao Mundo — a campanha principal do título — também está alterada, com menos pistas que se passam nos mesmos lugares e países, o que traz mais variedade que o jogo anterior. Mecanicamente, porém, Horizon Chase 2 tem mudanças significativas. Além de controles mais precisos (e um pouco mais pesados), você não precisa mais se preocupar com combustível durante as corridas, por exemplo. Se acha que isso é uma resposta para a frustração em tentar coletar coisas em alta velocidade nas corridas, não é bem assim: as novas fases extras agora são “contra o tempo”, ou melhor, te forçam a coletar ícones que diminuem o tempo gasto e só são vencidas se você deixar pouquíssimas passarem. No fim, a frustração aumentou mais (caso queira ir atrás desses estágios, claro).
Essa estranha ida e volta de complexidade é talvez o que mais me incomodou durante meu tempo com Horizon Chase 2. Uma grande parte da diversão do primeiro jogo, por exemplo, era colecionar as fichas azuis que estavam presentes na fase: conseguindo todas e um troféu de 1º lugar te garantia um Super Troféu! Isso continua aqui e com layouts de ficha aprimorados, sendo mais prazeroso a busca delas. Entretanto, a curva de dificuldade das IAs dá uma capotada na segunda metade do jogo — carros te trancam mais do que o normal do nada, curvas são mal telegrafadas pelos cenários mais detalhados e se você tiver sorte de encontrar o carro que está na 1ª posição, espere por um nitro ser ativado a 10 segundos do fim da corrida. É ainda tranquilo só passar as fases, mas buscar a maestria agora vai demandar bem mais paciência e trabalho.
Outra coisa que acabou ficando mais fraca foi a personalização dos carros, tanto em questões de gameplay quanto visuais. No primeiro jogo, você tinha dezenas de carros diferentes (com algumas opções de cores) e as melhorias ganhadas durante a Volta ao Mundo eram aplicadas automaticamente a todos eles, como a progressão do jogador — até carros referenciando ícones como o DeLorean ou a Super Máquina estavam lá. Em Horizon Chase 2, você tem pouquíssimas opções de carro que, mesmo com carrocerias e cores únicas, não compensam a variedade do primeiro jogo. Rodas também podem ser desbloqueadas APENAS vencendo as fases “contra o tempo”, uma recompensa nada boa para o que são, provavelmente, os estágios mais difíceis do jogo.
As poucas coisas que não mudaram, entretanto, continuam ótimas. A trilha sonora de Barry Leitch (compositor das músicas de Top Gear e do primeiro Horizon Chase) continua perfeita, com seus sintetizadores pulsando com uma batida pronta para as corridas. O jogo também permite multiplayer local e online para os que buscam dar aquela corridinha com os amigos, além de torneios mais tradicionais com quatro pistas em sequência para corridas rápidas. É uma pena que elas devam ser desbloqueadas completando os capítulos da campanha principal, mas tudo bem. Desafios online para conseguir novas personalizações também estão disponíveis, mas, sinceramente, não chamaram tanto a minha atenção.
Em time que tá ganhando se mexe? Bom, em Horizon Chase 2 mexeram, e muito. Mesmo sem perder a essência do conceito original, essa sequência é uma experiência bem diferente, pro bem e pro mal. Enquanto os cenários mais detalhados e bonitos enchem os olhos (quando são inspirados), a curva de dificuldade estranha e a fixação por coletáveis acaba trazendo de novo uma frustração que podia ter sido evitada. Dito isso, mesmo que não tenha entrado no meus favoritos como o primeiro fez, ainda vale a pena dar uma olhada e correr um pouco pelo mundo ao som de uma boa trilha eletrônica. Nunca é tarde para apertar os cintos e caçar o horizonte de novo.
Horizon Chase 2 está disponível para PC na Epic Games Store, no Nintendo Switch e para dispositivos iOS no Apple Arcade.
*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.