Os vampiros sempre tiveram um papel especial na cultura pop, inspirando as mais diversas obras, desde romances adolescentes até contos de terror. A Hora do Vampiro, livro de Stephen King publicado em 1975, é um desses clássicos que ajudou a moldar a representação desses seres sobrenaturais na ficção. O romance foi adaptado algumas vezes, incluindo a famosa minissérie de 1979 dirigida por Tobe Hooper, que se tornou um marco do gênero. Agora, em 2024, “A Hora do Vampiro” ganha um novo filme, desta vez diretamente para a plataforma Max. No entanto, o remake falha por não entender o espírito do material original.
Mesmo que a trama central e os personagens se mantenham fiéis ao original, o novo filme não consegue decidir se abraça o horror explícito ou se foca mais em um suspense sobrenatural. Essa indecisão compromete a narrativa e tira o impacto das situações, esvaziando os personagens e prejudicando a imersão do público. Isso afeta até mesmo algumas mudanças que poderiam ser interessantes, mas acabam mal exploradas.
A história se passa em 1975 e acompanha Ben Mears (Lewis Pullman), um escritor de sucesso que retorna à pequena cidade de (Jeru)Salem’s Lot, onde passou parte de sua infância. Em busca de inspiração para seu novo livro e de respostas sobre seu passado, Ben começa um relacionamento com Susan Norton (Makenzie Leigh). Contudo, ele logo percebe que a pacata cidade esconde segredos sinistros, quando crianças começam a desaparecer e os moradores parecem ser vítimas de uma estranha doença. A medida que a situação se agrava, Ben descobre que antigas lendas são mais reais do que ele poderia imaginar.
O diretor Gary Dauberman, que também escreveu o roteiro, investe num tom de mistério para apresentar a pequena cidade e seus personagens. Porém, erra ao não transformar Salem’s Lot no coração da narrativa. O clima de paranoia que toma conta da cidade nunca é bem estabelecido e o espectador é privado de entender mais dos costumes e da interação entre os habitantes. A história ganharia contornos mais interessantes se dedicasse parte de sua longa duração a trabalhar esse aspecto.
Uma das alterações mais notáveis em relação ao original está no personagem Mark Petrie, vivido pelo jovem Jordan Preston Carter. No remake, Mark é apresentado como um garoto negro, corajoso e fã de histórias de terror. Sua introdução como um recém-chegado à cidade, assim como o protagonista, abre espaço para possíveis discussões sociais e raciais, temas presentes em muitas obras de terror. Contudo, o roteiro não aprofunda esses aspectos e acaba desperdiçando o potencial da mudança. Ainda assim, a dinâmica entre Mark e Ben se destaca como um dos pontos positivos do filme. A coragem e inteligência de Mark, aliadas à postura protetora de Ben, criam uma parceria que traz alguma substância ao desenvolvimento dos personagens.
A partir do segundo ato, “A Hora do Vampiro” abandona o suspense e decide investir no terror com toques de ação. A sutileza dá lugar aos sustos fáceis e mortes violentas. É como se estivéssemos diante de dois longas diferentes com propósitos distintos. A violência aumenta, mas a tensão é perdida, e o que poderia ser um confronto brutal pela sobrevivência se torna uma sequência de sustos fáceis e mortes sangrentas.
Quem sabe uma minissérie fosse uma alternativa melhor para adaptar essa história, assim como ocorreu no passado. Algo no mesmo estilo de Missa da Meia-Noite (leia a crítica), de Mike Flanagan. No fim das contas, a nova versão de “A Hora do Vampiro” é apenas um caixão vazio que poderia abrigar algo muito mais interessante e assustador.