Crítica de Homo Argentum (2025), polêmico filme argentino estrelado por Guillermo Francella Crítica de Homo Argentum (2025), polêmico filme argentino estrelado por Guillermo Francella

Homo Argentum (2025) | Crítica do Filme

Homo Argentum (2025), dirigido por Mariano Cohn e Gastón Duprat, chega aos cinemas brasileiros após se tornar um fenômeno de público na Argentina. O filme reúne uma série de histórias independentes que revelam contradições e comportamentos do cotidiano urbano, sempre com um olhar atento para a hipocrisia de diferentes personagens. No centro desse mosaico está Guillermo Francella, que se torna o ponto de sustentação da narrativa.

A força das atuações em Homo Argentum

A estrutura de antologia permite que Francella explore 16 personagens distintos ao longo do filme. Ele se destaca em cada um deles, conduzindo as esquetes com versatilidade e domínio cômico. Embora o elenco de apoio seja competente, o roteiro e os diálogos foram pensados para privilegiar o protagonismo do ator, o que define o tom da obra e dá unidade às tramas.

Essa centralidade não chega a ser um problema, já que Francella é capaz de envolver o público com carisma e precisão. Parte do atrativo de Homo Argentum está justamente no jogo de identificação que o ator propõe: reconhecer traços, vícios e atitudes desses personagens, muitos deles marcados por desvios de caráter ou comportamentos socialmente questionáveis. O riso pode surgir tanto do reconhecimento quanto da rejeição dessas figuras, que funcionam quase como caricaturas críticas do cotidiano argentino.

A politização de Homo Argentum e o impacto na recepção

Apesar de sua proposta humorística, o filme se tornou alvo de intensa politização na Argentina. A partir do momento em que o presidente Javier Milei passou a exibir a produção para correligionários, a narrativa foi apropriada para reforçar um discurso contra a chamada “cultura woke”. Os personagens do longa foram associados, pelo governo, a uma suposta representação da esquerda argentina, acusada de defender de forma oportunista pautas como feminismo, justiça social e preservação ambiental.

A relação ficou ainda mais sensível diante das medidas do governo Milei, que reduziram drasticamente o financiamento do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (INCAA), responsável por apoiar produções nacionais. O retrato do cineasta presente em uma das histórias — um diretor homossexual que registra uma tribo indígena apenas para conquistar prêmios e fazer discursos engajados — acabou sendo interpretado como uma confirmação da visão oficial.

Sem o apoio estatal, Homo Argentum recorre a patrocínios privados de grandes marcas, o que resulta em um volume de merchandising que chama atenção e chega a interferir na experiência. As inserções publicitárias são constantes e se tornam parte marcante da estética do filme.

Crítica de Homo Argentum (2025), polêmico filme argentino estrelado por Guillermo Francella

O que sobra quando se ignora o debate político?

A camada política que envolve Homo Argentum pode ofuscar o que o filme oferece em sua essência: uma coletânea de contos humorísticos sobre comportamentos típicos do argentino contemporâneo. Há referências ao orgulho nacional pela vitória na Copa do Mundo de 2022 e ao peso simbólico de ter um Papa argentino. Esses elementos ajudam a compor o cenário cultural em que os personagens ganham vida.

O filme funciona como uma espécie de versão cinematográfica de esquetes populares da internet, como as do canal Porta dos Fundos, mas com um roteiro mais estruturado e humor menos escrachado. A sátira social é direta, e a variedade de situações garante momentos de riso ao expor figuras contraditórias.

Crítica: vale a pena assistir Homo Argentum nos cinemas?

Sim. Apesar da disputa ideológica que se formou ao redor do filme, a experiência faz mais sentido quando cada espectador tira suas próprias conclusões, sem filtros externos. Homo Argentum funciona como entretenimento e como provocação, sustentado principalmente pelo desempenho de Guillermo Francella, que oferece ao público momentos divertidos e memoráveis.