Hellboy é um dos personagens mais icônicos dos quadrinhos e já foi adaptado para live-action e animações de home video. Primeiro, tivemos a versão não finalizada de Guillermo Del Toro, seguida por um filme criticado estrelado por David Harbour. Agora, com Hellboy e o Homem Torto, o demônio vermelhão retorna em uma produção de baixo orçamento e mais modesta.
“Hellboy e o Homem Torto” funciona como um “soft reboot”, além de ser um filme independente das outras adaptações. A trama acompanha Hellboy (Jack Kesy) e uma equipe da BPDP lidando com um caso paranormal que acaba mal, levando-os a uma pequena cidade do interior. Lá, eles se envolvem em uma história de bruxas, maldições e o enigmático Homem Torto. Nesse confronto, Hellboy é forçado a encarar seu passado e origem.
O diretor Brian Taylor (“Adrenalina”) deixou claro que o filme é uma carta de amor à Mike Mignola, criador de Hellboy e roteirista do longa. A trama adapta uma das histórias mais sombrias do personagem. Para os fãs dos quadrinhos, as narrativas são geralmente casos isolados, no estilo das antigas histórias “pulp”, e não grandes sagas épicas como nos filmes anteriores. “Homem Torto” é um filme mais modesto, com um orçamento de 20 milhões de dólares (considerado baixo para filmes de ação e super-heróis), que sabe onde apostar suas fichas, oferecendo uma história mais simples, direta e com toques de “folk horror”.
O orçamento limitado é tanto um desafio quanto uma vantagem para o filme. Com uma boa mistura de efeitos práticos e CGI, ele cria um clima interessante de terror, embora raramente assustador. Em alguns momentos, há falhas nas câmeras, cortes ou no elenco de apoio, mas também é possível perceber que o diretor sabe trabalhar com poucos recursos, gerando uma ambientação bizarra, absurda e até cômica, como nos quadrinhos.
Jack Kesy está muito bem como Hellboy, tanto pela caracterização quanto no estilo canastrão com frases de efeito. O roteiro também explora o passado do personagem, conectando-o à trama atual e permitindo momentos mais dramáticos. No entanto, a análise do elenco de apoio fica comprometida pela péssima dublagem brasileira. Embora eu tenha preferência por filmes legendados, me acostumei à dublagem pela melhoria na qualidade e pela acessibilidade nas salas de cinema. No entanto, não lembro de um filme em que a dublagem atrapalhasse tanto a obra original. O problema está nos personagens da cidade, que são dublados com um sotaque caipira caricato e ridículo.
Esse problema da dublagem é especialmente ruim porque Hellboy é um personagem secundário na trama principal. Personagens locais importantes na história possuem esse sotaque exagerado, incluindo Tom Ferrell (Jefferson White), um jovem que retornou da guerra e precisa enfrentar seus demônios literais. Ele é praticamente o protagonista, mas sua dublagem é a mais irritante. A quebra de imersão foi tão forte que quase me fez sair do cinema, pois não queria estragar uma experiência que estava apreciando. Um ponto negativo para um filme que já não teria grande bilheteria, mas que merecia mais.
Apesar das críticas e da dublagem, eu gostei de “Hellboy e o Homem Torto”. É perceptível que foi feito com o coração, sem grandes interferências do estúdio. Como fã do personagem e do audiovisual, acredito que projetos ousados e diferentes como este devem ser valorizados. O filme equilibra bem gêneros de terror B, super-heróis e comédia. Ele se leva a sério quando necessário, mas também sabe rir de si mesmo, sempre trazendo Hellboy como o anti-herói canastrão cheio de frases de efeito. Em um cenário onde filmes de super-heróis são muitas vezes superficiais, este é uma joia que merece ser apreciada — de preferência no áudio original.