“Eu te avisei” deve ser uma das coisas mais dolorosas de se ouvir logo após um erro. O novo filme da franquia Star Wars, protagonizado por um Han Solo que não é o Harrison Ford, enfim chega aos cinemas com a triste constatação de que boa parte dos críticos do projeto tinham certa razão: não precisávamos de um filme do personagem. Ao menos, não dessa forma.
Alden Ehrenreich interpreta Han, um rapaz que vive na miséria no planeta Corellia junto com Qi’ra (Emilia Clarke). Com o sonho de se tornar o melhor piloto da Galáxia, o jovem Han se alia a Beckett (Woody Harrelson) e sua equipe de mercenários.
Qualquer insucesso de Han Solo: Uma História Star Wars não pode ser atribuído ao protagonista. Alden consegue emular o jeito de Harrison Ford falar, incluindo também outros trejeitos marcantes. Mas a falta de impacto no filme acaba tornando os esforços do ator em vão, de certa forma. Trabalhar com mais atenção as diversas outras possibilidades no roteiro poderia ter ajudado bastante o filme.
Uma delas seria a construção da amizade dele com Chewbacca. É bastante nostálgico ver os dois juntos, mas não sentimos o peso necessário para um primeiro encontro entre os dois, por mais que a ideia do local e situação tenha sido boa (Han conversando na língua wookie é forçado). Outra opção seria aprofundar ainda mais a relação entre Solo e Qi’ra. Não há muita química entre o casal protagonista, e o texto opta por não revelar pontos importantes da história da personagem de Emilia Clarke. Decisão acertada mas que afasta um pouco o público dos dois como casal. Quem fica melhor trabalhado nesse balaio acaba sendo o contrabandista vivido por Harrelson.
Há alguns vislumbres de qualidade a serem apontados. A robô ativista L3-37 (Phoebe Waller-Bridge) possui o carisma que se espera para um personagem da saga mas, infelizmente, isso não se estende a todas as personas. Lando, vivido por Donald Glover, tem participação boa pelo carisma do ator (principalmente nas cenas festivas) mas suas motivações não foram bem solidificadas pelo roteiro. Outra subaproveitada é Val (Thandiwe Newton), figura interessante do grupo de Beckett que poderia ter mais tempo de tela.
Esses vislumbres passam também pelos ganchos deixados, envolvendo elementos de A Ameaça Fantasma e também as animações de Star Wars. Conteúdo bom para debates pós-filme, mas enfraquecidos quando saímos pouco impactados da sessão. O filme propriamente oferece algumas reviravoltas interessantes, mas carece de personalidade própria.
A preocupação em explicar muita coisa não mostrada na saga clássica (em detrimento de algo genuinamente novo) pressupõe que os fãs se contentam com muito pouco. O tal jogo valendo a Millenium Falcon com Lando e o recorde quebrado no Percurso de Kessell são exemplos disso: são causos até interessantes para agradar quem ama Star Wars, contanto que o filme funcione como um todo. Até o motivo do “Solo” no nome do protagonista o roteiro se dispõe a explicar.
Podemos dizer com grande pesar que Han Solo: Uma História Star Wars não é um filme memorável, tampouco equivalente em qualidade aos melhores da saga. Porém, há coisa pior feita por aí. Vai depender do quanto você consegue abaixar suas expectativas e relevar outras coisas.