Bastion é um dos melhores jogos que já tive o prazer de jogar. Acho uma experiência de ação e narrativa muito bem polida e muito divertida. Já conhecendo o trabalho da Supergiant Games, fiquei empolgado em saber do seu novo jogo, Hades. Mas, quando soube que seria um jogo no estilo Roguelike, fiquei um pouco preocupado pois não curto muito esse estilo de jogo. Felizmente, minha preocupação foi em excesso e essa é facilmente uma das melhores experiências de Roguelike que já tive. Confira nossa crítica sem spoilers de Hades.
De que se trata Hades?
No jogo, você controla Zagreu, filho do deus Hades. O seu objetivo é fugir do submundo para chegar até a superfície enquanto seu pai tenta lhe impedir. No caminho, você vai fazer amizades e rivais dos mais diversos tipos de deuses e personagens da mitologia grega. Os motivos da sua fuga, do seu pai tentar lhe prender e dos deuses te ajudarem são mistérios no início da narrativa. Uma das graças do jogo é justamente ir desvendando essa história através de pequenos diálogos. Tudo isso em um jogo que mistura ação, gerenciamento de recursos e até dating sim.
Um dos principais aspectos do jogo é como ele encaixa bem a mecânica de Roguelike com a narrativa. Toda vez que você morre, volta para o salão do seu pai onde as almas mortas são recebidas para começar tudo de novo. Como a trama se passa praticamente toda no mundo dos mortos, todo personagem que morre vai voltar e tudo pode se repetir novamente. E, eventualmente, quando você terminar o jogo, existe também uma boa desculpa para você iniciar de novo e continuar tentando. Na verdade, o certo é chamar o estilo de jogo de Roguelite, porque você vai evoluindo o personagem entre tentativas, mas eu gosto de chamar tudo de Roguelike para simplificar.
Roguelike Narrativo
A frustração de começar tudo de novo mesmo com novos upgrades e habilidades desse tipo de jogo me cansa depois de um tempo. Faz parecer que estou perdendo tempo. Mas Hades possui diversos elementos que escondem esse sentimento fazendo com que cada tentativa tenha significado e sirva para avançar na história. O primeiro aspecto é justamente esse da narrativa, diferente de outros Roguelike, Hades tem uma trama complexa. Cada vez que conversa com um personagem, você descobre um pouco mais sobre ele ou sobre o mundo em que vive. Tal como nos outros jogos da empresa, quase tudo que você faz no mundo é reconhecido e vai ser comentado pelo narrador ou outros personagens. E isso só funciona muito bem pois existe uma quantidade de diálogos gravados considerada absurda. Estou com mais ou menos 35 horas e acho que nunca vi um diálogo se repetir.
Essa quantidade imoral de diálogos que não se repetem e história intrigante é ainda mais acentuada pela maravilhosa direção de arte e de dubladores do jogo. Primeiro falando da arte visual, tanto cenários como personagens desenhados são de um cuidado e criatividade absurdos. Cada personagem novo que você conhece tem um estilo próprio muito bem pensado e muita personalidade. Essa personalidade fica muito mais aparente quando você escuta eles falando. Mesmo com imagens estáticas, é possível imaginar eles se mexendo para falar pela qualidade da direção dos atores. É fisicamente muito difícil não ter crush em todos eles. Por falar nisso, você pode avançar nos diálogos e relacionamentos com personagens oferecendo nectar para eles, um recurso raro que vai encontrando no caminho. É uma ótima forma de fazer uma conexão do gameplay com a narrativa.
Não podemos terminar de falar da apresentação do jogo sem mencionar o trabalho impecável de Darren Korb com a trilha sonora. A trilha de Bastion é uma das minhas favoritas e é muito bom ver que ele continua evoluindo nesse ponto. Na verdade, toda a direção de som e dublagem também está nas suas costas, dublando até alguns personagens como o protagonista Zagreu.
Como funciona o combate de Hades
Mas e o combate? Apesar de tudo Hades ainda é um jogo de ação. Felizmente nesse ponto ele também faz o seu trabalho muito bem. O combate básico te dá a opção de fazer ataques simples, atirar um projétil, um ataque especial que vai depender de cada arma e dar um dash. Mas isso aí é só o começo pois cada arma joga de um jeito bem diferente e as bênçãos aleatórias que você recebe dos deuses no decorrer do jogo vão modificando ainda mais a experiência. Além disso, toda arma tem 4 formas diferentes que podem mudar pouco ou muito a forma como ela são usadas. Juntando isso tudo, beira o infinito a quantidade de combinações e estilo de jogo que você tem disponível. E, mesmo que você não goste de todas as armas, o jogo te incentiva a jogar com todas pelo menos algumas vezes para desbloquear alguns recursos importantes.
O combate também não é nada só de espancar os botões. Mesmo com bênçãos poderosas, você tem que pensar em como vai enfrentar os diferentes tipos de inimigos e suas diversas habilidades. O pensamento estratégico não está presente somente nos combates. Ao receber as ajudas dos deuses e ao escolher a próxima sala , você tem que pensar bem e planejar seu futuro, fazendo as escolhas certas. Eu vou atrás de ganhar vida para essa essa tentativa ou ganhar cristais para evoluir meu personagem para a próxima? Vou atrás de uma bênção de Zeus que me dá poder de soltar raios ou de Dionísio que causa envenenamento em meus oponentes?
Fica um sentimento de que o fator aleatório não é tão forte como em outros jogos Roguelike, dependendo muito mais da habilidade e escolhas do jogador. Essas decisões estratégicas também acontecem entre tentativas pois você precisa decidir como vai gastar sua grande gama de recursos variados para desbloquear as diversas melhorias que o jogo oferece.
Hades: Veredito
O jogo ainda possui muita coisa que não falei aqui pois é muito mais divertido ir descobrindo você mesmo. Hades é uma experiência Roguelike diferente pois te dá muitas opções estratégicas e de narrativa para fazer entre tentativas de fuga. Isso faz com que cada tentativa não seja frustrante, pois você sempre sente que está evoluindo. Junte isso a combate muito bem polido, personagens cativantes com uma arte incrível e história cativante cheia de segredos e você tem um jogo que beira a perfeição.
Minhas únicas críticas são o fato de que, como em vários Roguelike, o fator sorte pode influenciar suas habilidades tão fortemente que você pode achar que o jogo está jogando por você. Outro pequeno problema é que a tela fica um pouco bagunçada e confusa dependendo do nível de poder e habilidades diferentes que você tem. Mas apesar desses pequenos pontos, essa é uma experiência incrível e viciante que vai te deixar preso por muito tempo mesmo depois de terminar o jogo algumas vezes, pois ele sempre parece ter mais o que mostrar e o que dizer a cada momento.