“Diretor fulano de tal abandonou o filme x por diferenças criativas com o estúdio”. Essa é uma frase batida nos corredores de Hollywood, especialmente quando estamos falando de blockbusters. Nesses filmes, onde o investimento é sempre alto, o estúdio (especialmente os investidores) gosta de garantir que as coisas vão tomar um rumo lucrativo. Por isso é comum que os engravatados façam uma marcação forte nas decisões criativas dos longas.
Acontece que nem todo diretor concorda com isso, mesmo sabendo que o estúdio em questão possui uma certa fama nesse assunto. Aí, após algumas discussões, as duas partes chegam em um acordo e desfazem a parceria. Para amenizar o cenário diante da imprensa, todos usam as “diferenças criativas” como causa. É verdade em alguns casos e apenas uma desculpa esfarrapada em outros. E as adaptações de quadrinhos para o cinema parecem gostar dessa prática.
Recentemente acompanhamos a saga do reboot de Quarteto Fantástico da Fox. O diretor Josh Trank e o estúdio estiveram em constante pé de guerra. Isso acabou causando problemas na produção do filme, com intrigas nos bastidores e até mesmo refilmagens de algumas cenas. Na época do lançamento, Trank comentou que aquele não era seu filme. Não é possível cravar que tudo isso influenciou no resultado final, mas o que vimos foi um produto totalmente descartável.
Mantendo o papo ainda no selo Marvel, mas agora do lado da Disney, o filme do Homem-Formiga também perdeu seu diretor por “diferenças criativas”. Edgar Wright esteve envolvido com o projeto durante anos, mas quando as coisas finalmente iam sair do papel, ele teve alguns desentendimentos com o estúdio. Peyton Reed assumiu o longa e foi até o fim. Apesar de tudo, Homem-Formiga foi um sucesso de bilheteria e já tem uma sequência programada.
Mas parece que as coisas andam mais complicadas lá pelas bandas da Warner/DC Comics. Ontem, o diretor Rick Famuyiwa (Um Deslize Perigoso) abandonou o projeto de The Flash, filme solo do Velocista Escarlate. Mas hoje o site Cinema Blend noticiou que Rick se desligou da produção por “diferenças criativas”. Inclusive o diretor comentou sobre o assunto.
“Quando fui procurado pela Warner e pela DC sobre a possibilidade de dirigir The Flash, estava empolgado com a possibilidade de entrar nesse mundo incrível de personagens com os quais eu cresci, e ainda amo hoje em dia. Também queria trabalhar com Ezra Miller, que é um jovem ator fenomenal. Eu pensei em uma versão do filme de acordo com a minha voz, humor e coração. Embora seja desapontador que não conseguimos chegar em um acordo criativo do projeto, continuo grato pela oportunidade. Continuarei procurando oportunidades de contar histórias que falem com uma nova geração, de um ponto de vista multicultural. Desejo o melhor para a Warner, DC, Jon Berg, Geoff Johns e Ezra Miller, enquanto eles continuam sua jornada pela força de velocidade.”
Acontece que Rick Famuyiwa não foi o primeiro diretor do filme que teve problemas com a Warner Bros. Seth Grahame-Smith já havia deixado o projeto por conta das famigeradas divergências criativas. Fontes do The Hollywood Reporter afirmam que a visão ousada de Rick para o filme teria desagrado o estúdio.
Mas será que as ideias de Seth e Rick eram tão controversas assim para tirar o sono dos chefões da Warner? É verdade que as coisas não saíram como o planejado com Batman vs Superman e Esquadrão Suicida, o que ligou o alerta no estúdio da Caixa d’Água. Por isso Ben Affleck ganhou mais autonomia, ficando responsável pelo filme solo do Homem-Morcego e dando seus pitacos em Liga da Justiça.
Geoff Johns virou presidente da DC Entertainment, numa clara tentativa de colocar as coisas de volta aos trilhos. Acontece que The Flash está novamente sem diretor e isso pode gerar um atraso na produção do filme. As filmagens teriam início em março do ano que vem e Ezra Miller tem um compromisso com outro projeto marcado para julho. A Warner vai ter que ser rápida (sacou?) se quiser manter seu calendário intacto.
Mas The Flash não foi o primeiro filme da Warner/DC Comics que sofreu com problemas na direção. Antes de Patty Jenkins assumir o comando de Mulher-Maravilha, o longa esteve nas mãos de Michelle MacLaren. E ganha um doce quem adivinhar o motivo da saída de Michelle. Curiosamente, Patty quase dirigiu Thor: O Mundo Sombrio. Mas as tais “diferenças criativas” deram as caras.
Entre os fãs da Distinta Concorrência, as opiniões estão divididas. Alguns aprovaram a saída de Rick Famuyiwa, acreditando que se suas decisões criativas não agradaram o estúdio é porque não eram condizentes com a mitologia do Flash. Outros não estão satisfeitos com as decisões da Warner, alegando que o estúdio é o grande culpado por tais turbulências.
De qualquer forma, essa é a dança das cadeiras em Hollywood. O que realmente importa é que o universo de filmes da DC Comics encontre logo um ponto de equilíbrio, afinal o público só tem a ganhar com a variedade de adaptações no mercado.