Guerra do Velho é excelente investida da Editora Aleph em uma nova franquia para o leitor brasileiro
Num mercado cada vez mais concorrido, poucos serão os livros que despertarão nossa curiosidade apenas pela capa, título ou mesmo pela premissa. Guerra do Velho (Old Man’s War) de John Scalzi consegue fazer isso perfeitamente nesses três requisitos, seja pelo trabalho do próprio autor ou mesmo na competente edição da Editora Aleph.
No meu aniversário de 75 anos fiz duas coisas: visitei o túmulo da minha esposa, depois entrei para o exército.
A sinopse acima é de fritar o cérebro. Como um idoso pode entrar para o exército? John Scalzi trabalha muito bem os primeiros capítulos do livro tratando da condição de John Perry, o protagonista, assim como suas dores por ser viúvo e envelhecer. Não espere uma grande reflexão sobre envelhecimento, no entanto. A questão é abandonada completamente depois que novos corpos são dados a cada indivíduo que se alista. É uma explicação aceitável, mas pode decepcionar um pouco quem gosta de grandes surpresas.
Narrado em primeira pessoa (assim como Tropas Estelares, principal referência bibliográfica aqui), Guerra do Velho acerta em apresentar um novo universo com grande variação de seres. Desde os pequeninos Covandus até os ritualísticos Consu, o lance mais legal dessa treta interestelar é a imprevisibilidade e as infinitas possibilidades numa batalha. O gosto (positivo) de quero mais fica depois da leitura.
Isaac Asimov: um salto entre uma região do espaço e outra, através da região conhecida como super-espaço, ou hiperespaço. No salto, atravessa-se uma distância de vários anos Iuz entre uma estrela e outra em apenas alguns segundos.
Guerra do Velho também traz conceitos científicos legais e os aplica de modo bem didático (às vezes até demais) como o tão utilizado salto, sempre através de algum personagem secundário como muleta para tanto. Mora aí o principal problema: o excesso de diálogos. Se por um lado fica muito mais leve e prático de se entender o proposto, muita conversa negligencia o leitor de conhecer muitos detalhes. Os primeiros capítulos estão bem distribuídos nesse sentido, mas do meio pro fim as coisas correm muito rápido sem causar o devido impacto.
Esse desequilíbrio é refletido principalmente nas Forças Especiais do tal exército espacial (FCD – Forças Coloniais de Defesa), também apelidados pejorativamente de Brigada Fantasma. É nesse ponto que há a maior revelação do livro, e é muito fácil relacionarmos o grupo à realidade da nova geração (que prefere teclar ou invés de conversar por exemplo) mas faltou algo que desse a eles mais profundidade e gerasse empatia (nem mesmo o grande spoiler envolvendo eles conseguiu isso).
No geral, Guerra do Velho cumpre seu papel de dar novas figuras para a imaginação do leitor, como os novos seres e lugares descolados (imagina viajar para fora da Terra no Pé-de-Feijão?), mas pedala em alguns pontos importantes que podem ou não serem melhorados nos outros livros envolvendo esse universo criado por John Scalzi, que são quase uma dezena ao todo. Queremos lê-los? Queremos. Depende da Editora Aleph.