O cinema indiano volta a investir em seu universo de espionagem com Guerra 2 (War 2), sequência direta do sucesso de 2019 estrelado por Hrithik Roshan. Dirigido por Ayan Mukerji, o longa estreia na Netflix e consolida o chamado Yash Raj Spy Universe — um conjunto de filmes que busca competir com as grandes franquias globais de ação, mesclando espetáculo, melodrama e números musicais. Confira a crítica do filme indiano:
A trama de Guerra 2, filme indiano na Netflix
A história começa com Kabir Dhaliwal (Hrithik Roshan), agente secreto da RAW, acusado de trair seu país após uma gravação comprometedora chegar às mãos erradas. A partir daí, Vikram (NT Rama Rao Jr.), ex-colega de Kabir, recebe a missão de encontrá-lo e trazê-lo de volta para responder pelas acusações. No entanto, as lealdades logo se embaralham quando surge a verdadeira ameaça: a KALI, organização criminosa com bases espalhadas pela Ásia e planos para desestabilizar a Índia.
Enquanto foge, Kabir descobre que a conspiração envolve o assassinato de seu antigo mentor, o coronel Luthra (Ashutosh Rana), e que a filha do oficial, Kavya (Kiara Advani), também está atrás dele. A partir desse ponto, a narrativa alterna entre cenas de ação em escala global — do Japão ao Ártico — e revelações pessoais que expõem o passado compartilhado entre Kabir e Vikram.
Um espetáculo de ação e excesso
Mukerji adota uma abordagem mais extravagante do que seu antecessor Siddharth Anand. As sequências de ação são amplificadas e assumem um tom quase cartunesco, com perseguições em carros, barcos e até uma luta aérea que desafia qualquer lógica física. Há também uma sequência em um trem e outra em uma caverna gelada, que funciona como clímax do embate entre os protagonistas.
O roteiro de Shridhar Raghavan, no entanto, aposta mais na dinâmica entre Kabir e Vikram do que na coerência narrativa. A rivalidade entre os dois se transforma em um vínculo ambíguo que mistura admiração, lealdade e desejo reprimido. Esse subtexto homoerótico, presente no primeiro War, é levado ao extremo aqui — especialmente em um confronto no Ártico que sugere uma tensão emocional maior do que a simples disputa entre herói e vilão.
Hrithik Roshan e NTR Jr.: duelo e química em cena
O carisma de Hrithik Roshan continua sendo o eixo do filme. Seu Kabir é um agente dividido entre o dever patriótico e as emoções pessoais, e o ator entrega uma performance mais contida do que em produções anteriores. Já NTR Jr., em sua estreia em Bollywood, oferece uma presença física imponente e uma energia que equilibra o estilo mais introspectivo de Roshan.
A química entre os dois é o ponto alto da produção. As cenas que compartilham — seja lutando, discutindo ou trocando olhares de respeito e rivalidade — dão ao filme uma camada emocional inesperada, ainda que muitas vezes involuntária.
Um blockbuster consciente de seu público
Guerra 2 não tenta reinventar o gênero. Em vez disso, se contenta em preencher com eficiência as fórmulas de um grande espetáculo de ação indiano. O filme entende que seu público busca entretenimento direto: cenas de luta bem coreografadas, humor ocasional e canções coreografadas estrategicamente. O visual polido e o uso moderado de computação gráfica reforçam a sensação de um produto tecnicamente competente, mesmo quando o roteiro se perde em excessos.
O nacionalismo, outro elemento recorrente na franquia, continua presente em frases de efeito e dilemas morais, mas sem dominar a narrativa. O foco está na parceria entre os protagonistas e no modo como eles lidam com suas lealdades conflituosas.
Crícia: vale à pena assistir Guerra 2 na Netflix?
Com quase três horas de duração, Guerra 2 é uma produção que alterna entre o espetáculo e o exagero. Sua força está nas sequências de ação bem conduzidas e na energia entre Hrithik Roshan e NTR Jr., que transformam o filme em um confronto de carisma e intensidade. Mesmo com um enredo irregular e reviravoltas previsíveis, o longa oferece o que promete: entretenimento em grande escala e a consolidação de um universo de espionagem que continua a expandir seu alcance global.
Para quem acompanha o cinema indiano contemporâneo, Guerra 2 representa um passo confiante — ainda que imperfeito — na tentativa de unir o drama melodramático de Bollywood ao dinamismo de franquias internacionais de ação.