Entre os aspectos que sempre cercaram Gotham, a figura do Batman é aquela que cria a maior sombra. Ao longo das temporadas, a evolução do jovem Bruce Wayne ficou cada vez mais evidente. E apesar da cidade ainda ser a personagem mais importante, o poder da figura do protetor alcançou um nível difícil de ser ignorado. Nesse novo ano, estamos diante do Batman Begins da TV. E não existe nada de errado nisso.
Depois da loucura da máfia, de monstros criados por Hugo Strange e dos planos obscuros da Corte das Corujas, Gotham agora enfrenta um novo cenário, mais próximo daquilo que nos acostumamos nas HQ’s. Em Pax Peguina, primeiro episódio da temporada, a árvore plantada ao longo dos anos começa a dar frutos. E agora as peças ocupam seus lugares de direito no tabuleiro. O Pinguim (Robin Lord Taylor), consolidado como grande chefe do crime, agora controla todas as atividades ilícitas da cidade. E convenhamos, depois de tudo que já vimos, até que existe certa lógica nessa jogada.
Ao distribuir licenças exclusivas para os criminosos, Cobblepot coloca em cheque a utilidade do GCPD. Já gasta pelos acontecimentos das temporadas passadas. E claro que Jim Gordon (Ben McKenzie) não fica satisfeito com isso, batendo de frente com seu antigo desafeto. A dinâmica entre os dois continua ótima, rendendo os melhores momentos do episódio. Já o roteiro é certeiro ao não transformar tal solução em algo inviolável, colocando um contraponto interessante a ideia do Pinguim. Existe honra entre ladrões? Todo esse jogo de egos abre espaço para outro clássico inimigo do Batman: Jonathan Crane, o Espantalho. Num visual que lembra bastante o que foi mostrado em Batman Begins. Que aliás serve como base espiritual para essa temporada.
Bebendo da fonte de clássicas HQ’s como Batman: Ano Um e O Longo Dia das Bruxas, Gotham acerta ao não tentar conter o inevitável: a transformação de Bruce Wayne. É fato que muitos apontavam como um erro colocar o Homem Morcego em algum ponto da história. Se prendendo, é claro, ao que foi construído em sua cronologia ao longo das décadas. Mas a evolução de David Mazouz não pode ser ignorada. A diferença entre sua aparição no primeiro episódio da série e nesse é brutal. Sua postura séria, errática em alguns momentos, não abre muitas brechas para questionar suas atividades como vigilante mirim.
Boas coreografias de luta contribuem para essa boa impressão. Mesmo que não possua todo o treinamento de sua versão mais velha, o jovem Bruce é muito capaz de detonar alguns bandidos de beco. E seu envolvimento direto nas loucuras das últimas temporadas serviram para moldar sua visão em relação a Gotham. Além da ameaça de Ra’s Al Ghul, que funciona como força motriz para suas aventuras noturnas. Claro que existem alguns deslizes, como o fato de Bruce retirar sua máscara de cinco em cinco minutos, não ligando muito para esse lance de identidade secreta. Mas é como dizem, sabedoria surge com o tempo.
Pax Peguina abre um caminho pra lá de promissor para Gotham. Mostrando que mesmo longe dos holofotes, essa é uma das melhores séries inspiradas em HQ’s do momento. Curiosamente, para apreciar todo seu potencial, é preciso se desligar do que existe nas páginas impressas. Entendo assim que todas as estradas levam a Roma. E que independente da mídia, o Batman sempre surgirá para salvar sua cidade.