Nostalgia. Uma palavra que remete a saudade idealizada de uma época anterior. É seguro dizer que todos nós possuímos grande nostalgia por alguma coisa – algum período de nossas vidas, alguma época que vivemos, e, em alguns casos, até mesmo que não vivemos. A nostalgia pode ser o sal e o tempero de alguma obra, e pode ser o muro que impede ver as falhas de outra.
Quando aplicamos isso a filmes e suas sequências, a nostalgia e as referências aos primeiros filmes de uma saga podem ser o “tudo ou nada”, salvando o filme ou acabando com ele. E é nessa lente, falando de nostalgia e sequências, que vamos falar de Ghostbusters: Mais Além.
MAIS ALÉM
Ghostbusters: Mais Além é o novo passo da franquia originada nos anos 1980, Ghostbusters – ou Caça-Fantasmas, na tradução -, que teve seu bom número de sequências e com certeza altos e baixos. Mais Além é uma espécie de cenário futuro, como um tipo de sucessor dos filmes anteriores e de seus caçadores de fantasmas, e isso já pode alarmar alguns fãs da saga por más lembranças do reboot de 2016, mas não se preocupem. O novo filme consegue injetar nova vida à saga enquanto traz várias lembranças boas aos fãs antigos e o conhecimento necessário aos novatos para que seja uma ida divertida ao cinema.
Contando com um elenco mais jovem, os novos caçadores de fantasmas são mais relacionáveis aos novatos à saga, que, assim como os protagonistas, não entendem perfeitamente bem como funciona todo o processo de capturar fantasmas soltos pela cidade, e é algo que tanto os novatos quanto os protagonistas entenderão no decorrer do filme, enquanto temos diversas referências e pequenos detalhes nesse decorrer que só os fãs mais antigos irão entender na primeira vez. Ele é perfeitamente aproximável e respeita suas origens, sendo bom para fãs veteranos e novatos – estou aqui falando como alguém que nunca havia visto nenhum filme de Ghostbusters e que saiu do cinema querendo assistir os originais.
Entretanto, alguns fãs mais puristas se recusam até mesmo a ver os filmes mais novos, tamanho sendo seu carinho pelos originais e pelo receio de aquela “magia” que existe em relação às suas memórias seja perdido. É aqui que vale a pena não só comentar que, assim como dito anteriormente, é um filme que veteranos IRÃO com certeza curtir, mas também que a nostalgia é um ponto que Ghostbusters: Mais Além usa perfeitamente a seu favor. É o tipo de sequência que não requer que você veja os filmes anteriores para entender o que está acontecendo – o que pode não acontecer com outros tipos de filme.
AS SEQUÊNCIAS E SEU TEMPERO PARA A NOSTALGIA
Existem tipos diferentes de sequências de filmes, e não necessariamente estarão acessíveis a todos – e não há nenhum problema nisso. Se pegarmos filmes como a trilogia Matrix e usarmos os segundo e terceiro filmes como comparação, não há como assistir o terceiro sem assistir o segundo – só lhe faria ficar se perguntando o que está acontecendo ali. Foram feitos intencionalmente de modo que sejam assistidos em sequência, pois suas narrativas estão completamente interligadas e dependem daquela continuidade, algo que podemos presumir que a segunda parte do filme Duna fará. Enquanto filmes que são acessíveis para os fãs e para os que não assistiram nada daquela saga são bastante importantes, sequências diretas são igualmente importantes e não devem ser ignoradas por fãs ou produtoras.
Isso porque quando existe um filme que é diretamente ligado ao seu antecessor, não só existe um mistério de qual rumo aquela história irá tomar e de uma resolução de quais ganchos ficaram por ser respondidos, como também existe um sentimento de apego aos personagens, aos cenários, às frases e ao universo em que aquele filme se passa. E, quando esse apego dos fãs é respeitado da maneira certa – sem apenas repetir o passado sem cerimônia ou nem mesmo mencionar o legado da saga -, os maiores sorrisos se abrem durante aquelas experiências, e são essas experiências que ficam com os espectadores.
Um exemplo pessoal é a saga de jogos Metal Gear Solid (que são metade filme, então olha só, se encaixam aqui!), que está completamente atrelada à continuidade. Não há como começar pelo quarto jogo, você precisa começar do primeiro. Se começasse do meio da saga, não só você ficaria perdido como todos os momentos que fazem os fãs vibrarem seriam perdidos. Quantos amantes da saga não enlouqueceram em seus assentos quando em Metal Gear Solid 4 vimos Metal Gear REX e Metal Gear RAY batalharem? Ou, usando um exemplo em um universo mais conhecido, quantos não piraram quando viram a cena de Star Wars: Rogue One onde Darth Vader aparece nas sombras? É uma situação que não há como ser replicada se não há conhecimento prévio, e é através dele que os momentos marcantes realmente ficam guardados conosco, dando aquela sensação de calor no peito.
Nostalgia e acessibilidade são parte importante do aproveitamento e da diversão que temos em qualquer tipo de mídia. É só quando aquela nostalgia acaba por cegar e fechar a mente de quem a tem que temos problemas, ou, por outro lado, quando exigimos que toda obra seja acessível a absolutamente todas as pessoas. Algumas vezes, a magia simplesmente se perde, e é melhor que tenhamos uma produção bem temperada pela nostalgia do que uma completamente sem sal porque quis agradar a todos. Existe um balanço entre as duas situações e existe espaço para todos os tipos de filmes citados coexistirem, e Ghostbusters: Mais Além é um ótimo exemplo de quando a nostalgia e a acessibilidade se juntam de forma que tanto novatos quanto veteranos podem se deleitar.