Genius – A Vida de Einstein é um excelente exercício histórico, e um alerta para nosso presente

Genius – A Vida de Einstein traz detalhes importantíssimos da vida de um dos grandes nomes da humanidade, junto com seu contexto histórico

Algumas atrações da TV acabam tendo o azar de serem lançadas em momentos não muito oportunos, como foi o caso de 3%. A série nacional da Netflix começou como um projeto independente e foi ganhando apelo até o seu lançamento, quando sua temática distópica social já estava gasta, depois de diversos Jogos Vorazes e outros tantos derivados genéricos. Já outras, acertam tão bem que é sensato supor uma estratégia bem calculada de quem a distribui. Genius – A Vida de Einstein, série recém chegada ao National Geographic (também disponível no Fox Premium) se encaixa perfeitamente nesse segundo perfil.

A trama adapta o livro “Einstein: Sua vida e seu universo”, de Walter Isaacson, mostrando o surgimento de Einstein desde suas origens humildes como pensador rebelde e criativo, sua luta por reconhecimento e respeito até seu status como celebridade mundial, como o homem que revelou mistérios do cosmos com sua teoria da relatividade.

O que mais chama atenção em Genius – A Vida de Einstein logo de cara é seu contexto histórico, onde é retratado desde o começo dos protestos e atentados promovidos pelos adeptos do partido nazista na Alemanha, direcionando seu ódio ao povo judeu. Aos poucos, o que as pessoas comuns absorviam como radicalismo foi mudando, até transformar esse ódio num sentimento padrão e unificado pelo país. Tudo isso motivado por uma grave crise econômica, um prato cheio para os fascistas de plantão (qualquer semelhança com situações atuais, seja no Brasil ou no mundo, não é mera coincidência).

A série ganha bastante força com a conveniente e indispensável inserção de figuras históricas das ciências exatas (além do protagonista), como Heinrich Weber (Alistair Petrie), Fritz Haber (Richard Topol) e Philipp Leonard (Michael McElhatton), esse último sendo um ativo defensor dos princípios nazistas.

Mais interessante ainda, nesse sentido, será conferir como a série irá contar o muitas vezes ignorado lado misógino e machista de Albert Einstein na série biográfica. Há diversas polêmicas a serem abordadas quando tratamos de sua vida, desde a fama de mulherengo até a apropriação intelectual de trabalhos realizados por sua esposa, Milena Marić (vivida por Samantha Colley). As mulheres na vida de Einstein tem muito a dizer, e pelo primeiro episódio assistido  (com competente direção de Ron Howard) podemos afirmar que essa expectativa será minimamente atendida.

As atuações e caracterização do elenco ficaram excelentes, o que não surpreende se levarmos em conta o elenco envolvido e encabeçado por Geoffrey Rush, muito marcado na cultura pop por viver o Capitão Barbossa na franquia Piratas do Caribe, que entrega um Albert Einstein bastante convincente aqui. Também se destaca Johnny Flynn, que dá vida a versão jovem do protagonista.

Genius parece que não vai se resumir, no entanto, à vida dessa figura histórica. Aparentemente, cada temporada da série do National Geographic será dedicada a uma dessas mentes geniais que marcaram a história mundial, tal qual o professor Albert Einstein conseguiu. Se for com essa abordagem e respeito, de um modo geral, ao contexto histórico, será um prazer continuar acompanhando. Mas, por enquanto, fica o alerta para o presente.