Gatillero (2025) - crítica do filme argentino Gatillero (2025) - crítica do filme argentino

Gatillero (2025) | Crítica do Filme | HBO Max

O novo filme argentino Gatillero, dirigido por Cris Tapia Marchiori e disponível na HBO Max, confirma o amadurecimento do cinema de ação e policial produzido na Argentina. Após o sucesso de A Noite Mais Fria, o diretor aposta novamente em uma abordagem crua e realista, mas desta vez amplificada por um ousado plano-sequência em tempo real, que coloca o espectador dentro da jornada de um homem em fuga e à beira do colapso moral. Leia a nossa crítica:

A trama de Gatillero: entre redenção e traição

O filme acompanha El Galgo (interpretado por Sergio Podeley), um ex-assassino de aluguel recém-saído da prisão e assombrado pela culpa. Tentando reconstruir sua vida na Ilha Maciel, território dominado pelo narcotráfico, ele aceita um trabalho aparentemente simples oferecido por sua antiga chefe, La Madrina (Julieta Díaz): intimidar um comerciante local. O que parece uma tarefa sem importância logo se transforma em uma noite de violência, perseguição e traição, enquanto o protagonista se vê encurralado pela polícia corrupta e pelos próprios cúmplices.

A narrativa segue em tempo real, sem cortes perceptíveis, criando uma sensação de urgência e imersão que mantém o espectador no mesmo estado de tensão que o protagonista. A cada esquina, uma nova ameaça. A cada decisão, um novo dilema moral.

Um plano-sequência que serve à narrativa

Mais do que um artifício estético, o plano-sequência de Gatillero é um recurso narrativo central. A câmera de Martín Sapia acompanha o protagonista por becos, casas e ruas estreitas, revelando a geografia labiríntica da Ilha Maciel e a degradação urbana que reflete o estado mental de El Galgo.

Essa escolha técnica remete a produções como Victoria (Sebastian Schipper) e Children of Men (Alfonso Cuarón), mas com uma identidade própria, fortemente enraizada na realidade social argentina. O movimento contínuo da câmera não busca deslumbrar, e sim aproximar o público da experiência física e emocional do personagem, reforçando o peso de cada decisão tomada naquela noite.

O submundo argentino e o eco do cinema noir em Gatillero

Gatillero dialoga com tradições do cinema noir e do Novo Cinema Argentino, evocando o trabalho de diretores como Pablo Trapero e Israel Adrián Caetano. A ambientação na margem do rio, os grafites nos muros e o contraste entre o concreto e a escuridão criam um retrato social preciso, onde o crime e a sobrevivência se confundem.

O filme se estrutura como uma espiral de degradação e culpa, em que El Galgo enfrenta não apenas inimigos externos, mas também o próprio passado. A Ilha Maciel, retratada com realismo e densidade, funciona como um personagem adicional — um território em que a esperança é escassa e a violência dita o ritmo da vida cotidiana.

O desempenho de Sergio Podeley e o olhar de Cris Tapia Marchiori

A força dramática de Gatillero reside no trabalho de Sergio Podeley, que compõe um personagem introspectivo e contraditório, dividido entre o impulso da sobrevivência e a busca por redenção. A direção de Cris Tapia Marchiori privilegia a proximidade: a câmera raramente se distancia de El Galgo, criando um elo direto entre o espectador e o protagonista.

Marchiori demonstra domínio sobre o gênero policial ao equilibrar ação, suspense e crítica social, sem recorrer a clichês visuais ou narrativos. Cada decisão estética — da iluminação fria às tomadas longas — reforça o senso de confinamento e de iminência trágica.

Gatillero (2025) - crítica do filme argentino

Crítica de Gatillero: um marco do cinema policial argentino

Com apenas 80 minutos de duração, Gatillero é um exercício de precisão narrativa e de vigor cinematográfico. O uso do plano-sequência, longe de ser um truque técnico, se transforma em um dispositivo de tensão e empatia, conduzindo o espectador por uma jornada sem respiro.

Ao fundir o drama humano e o thriller urbano, Cris Tapia Marchiori oferece um retrato contundente da violência cotidiana e das contradições sociais argentinas. Gatillero se consolida como uma das produções mais instigantes do cinema latino-americano recente — um filme que transforma o realismo em ferramenta de impacto e reflexão.