O longa Fugitivo por Acidente (The Accidental Getaway Driver, 2023), dirigido por Sing J. Lee e disponível na HBO Max, é inspirado em uma história real que ocorreu no sul da Califórnia em 2016. Mais do que um thriller policial, o filme mergulha em temas como solidão, imigração, laços familiares e a complexidade dos relacionamentos masculinos. Leia a nossa crítica do filme:
A trama e os personagens de Fugitivo por Acidente
A narrativa acompanha Long Ma (Hiep Tran Nghia), um idoso taxista vietnamita-americano que, em uma corrida noturna, aceita transportar três homens desconhecidos. A promessa de pagamento em dobro é suficiente para que ele aceite a corrida, mas logo descobre que seus passageiros são fugitivos do sistema prisional do Condado de Orange. Transformado em refém, Long é forçado a dirigir para o trio — formado por Eddie (Phi Vu), Aden (Dali Benssalah) e Tay (Dustin Nguyen).
O que poderia ser apenas uma trama de reféns se estendendo por uma noite se transforma em uma jornada que se desenrola ao longo de vários dias, em motéis baratos, estradas desertas e silenciosas interações. Entre ameaças e momentos de vulnerabilidade, o motorista começa a criar uma inesperada conexão com um de seus captores, principalmente Tay.
A construção do suspense e o papel do tempo no filme
Apesar de partir de uma premissa típica do gênero policial, o filme não se apoia em perseguições ou reviravoltas de ação. Sing J. Lee opta por um ritmo mais contemplativo, onde o tempo se torna quase um personagem. Relógios que param, luzes de emergência que piscam e longas esperas em quartos de motel refletem a experiência de Long, que alterna entre lembranças de sua vida no Vietnã e a solidão da velhice nos Estados Unidos.
Essa escolha dá ao filme um caráter reflexivo. O suspense cede espaço a diálogos lentos, pausas significativas e à construção gradual de laços entre homens que, à primeira vista, nada teriam em comum.
Fugitivo por Acidente: Barreiras linguísticas e conexões improváveis
Um dos aspectos mais marcantes da obra é a forma como explora a comunicação. Long fala apenas vietnamita, enquanto seus sequestradores se expressam majoritariamente em inglês. A tradução fica a cargo de Tay, que suaviza as ordens agressivas de Aden e cria pontes inesperadas entre o grupo. Em vários momentos, o som é manipulado para que o público compartilhe a confusão linguística de Long, reforçando seu isolamento.
Apesar disso, há instantes de proximidade. Jogos improvisados com sementes de girassol ou conversas durante longas viagens revelam que, mesmo em lados opostos de uma situação de sequestro, todos carregam arrependimentos e perdas semelhantes. Essa dimensão íntima dá ao filme um peso emocional que vai além da narrativa criminal.
A atuação de Hiep Tran Nghia
Hiep Tran Nghia, que começou a atuar já na maturidade, entrega uma performance central de grande impacto. Seu Long Ma é um homem de poucas palavras, mas de expressividade intensa. Os olhos, ora assustados, ora resignados, comunicam mais do que diálogos poderiam transmitir. Essa entrega sustenta a força dramática do filme e transforma o personagem em um reflexo de dignidade diante da vulnerabilidade.
Crítica: vale à pena assistir Fugitivo por Acidente na HBO Max?
Fugitivo por Acidente não se limita a contar a história de um sequestro. Ao contrário, utiliza esse ponto de partida para refletir sobre imigração, solidão e as formas inesperadas de conexão humana. Sing J. Lee demonstra domínio técnico e sensibilidade ao transformar um episódio policial em um estudo íntimo sobre o tempo, a memória e a busca por pertencimento.
Com ritmo deliberado e foco no desenvolvimento dos personagens, o filme se consolida como uma obra que mistura suspense com drama existencial. Disponível na HBO Max (clique aqui para assistir), é um título que chama atenção pela abordagem singular e pela atuação marcante de Hiep Tran Nghia.