Jason Momoa interpreta a si mesmo (ou quase isso) em Frontier, série da Netflix em parceria com o Discovery
Ao investir em um novo produto, é prudente ter em mãos elementos capazes de atrair a devida atenção do público para que o mínimo interesse seja despertado, e isso se aplica a filmes, séries, livros e HQs. No caso de Frontier, é um prato cheio: série original da Netflix (a mesma de tantas como House of Cards, Demolidor, Stranger Things), forte apelo histórico (produção em parceria com o Discovery Canada) e, o principal de tudo, Jason Momoa no elenco como protagonista.
Frontier acompanha Momoa como Declan Harp, um ambicioso e implacável comerciante em busca de vingança. Trata-se de um drama de aventura que acompanha a caótica e violenta batalha pelo controle do poder e da riqueza no comércio de peles na América do Norte durante o século 18. A narrativa será contada através de múltiplas perspectivas e vai abordar também a delicada relação entre as tribos nativas e os recém-chegados europeus.
Jason Momoa é uma decepção atuando. O ator pode mandar muito bem em papéis que exijam pouca desenvoltura interpretativa (Khal Drogo de Game of Thrones, por exemplo), mas isso precisa ser compensado de alguma forma, seja na ação ou então reforçando o arco dramático de quem o cerca.
Nem um nem outro. Apesar de exagerar um pouco na violência em determinados momentos, Frontier foi produzida naquela manjada estratégia de se filmar batalhas no escuro, ou então com muitos cortes perdendo assim a fluidez. Já o elenco que o cerca é formado majoritariamente por desconhecidos com alguma qualidade como Evan Jonigkeit da série Easy (também Netflix) e Zoe Boyle (Sons of Anarchy, Downton Abbey), apesar de melhores nas artes cênicas se comparados ao futuro Aquaman.
O resultado é uma trama cheia de furos e motivações inverossímeis ou exageradas. Um mero ladrão (Michael Smyth, interpretado por Landon Liboiron) passa de refugiado a espião da coroa, em poucos minutos conquista a confiança do principal líder rebelde, com direito a dar pitacos na operação para ciúmes do até então segundo na liderança, que por sua vez some revoltado para nunca mais aparecer. A tribo Cree, que possui grande importância na premissa devido ao seu papel desempenhado no comércio de peles, é outro exemplo do descaso roteirístico sumindo totalmente nos últimos episódios, assim como o padre alcoólatra James Coffin (nesse caso, apenas um alívio cômico de qualidade questionável vivido por Christian McKay). Alguns retornarão na segunda temporada já confirmada, lógico, mas fica tudo muito jogado e desconexo.
Mas nem de tudo é ruim em Frontier. As paisagens do extremo norte do continente americano são lindas e dão uma imersão aceitável na ambientação da série. Os diálogos, apesar de excessivamente didáticos, ajudam bastante também nesse contexto. Para a próxima temporada, precisam escrever melhor esse Declan Harp do Momoa, e amarrar melhor a trama que o cerca.