Frankenstein, filme de Guillermo del Toro da Netflix - crítica Frankenstein, filme de Guillermo del Toro da Netflix - crítica

Frankenstein (2025) | Crítica do Filme | Netflix

Após décadas sonhando em adaptar o romance Frankenstein; ou, O Moderno Prometeu, Guillermo del Toro finalmente apresenta sua versão do clássico de Mary Shelley. O filme, estrelado por Oscar Isaac, Jacob Elordi, Mia Goth e Christoph Waltz, estreia com exclusividade na Netflix em 7 de novembro de 2025, depois de uma breve passagem pelos cinemas e festivais. O resultado é uma leitura profundamente autoral, que revisita os temas da obra original com o rigor visual e a melancolia já característicos do cineasta. Confira a crítica:

Um retorno às origens com olhar moderno para Frankenstein

Del Toro opta por ambientar Frankenstein em 1857, época vitoriana posterior à publicação do romance de Shelley. A escolha permite um retrato visualmente detalhado do período e uma ênfase maior no uso da eletricidade como força vital — elemento que ganha peso simbólico na narrativa. O diretor mantém a estrutura filosófica da história original, mas constrói uma linguagem cinematográfica própria, explorando tanto o terror gótico quanto o drama existencial.

O filme se inicia no Ártico, onde Victor Frankenstein (Oscar Isaac) e sua criação (Jacob Elordi) se confrontam em meio ao gelo. A partir daí, o roteiro alterna os pontos de vista de criador e criatura, em uma estrutura que ecoa o formato epistolar do livro. O espectador acompanha as motivações científicas de Victor e, mais adiante, a lenta formação da consciência do ser que ele criou.

A criatura de Jacob Elordi e o homem por trás do mito

Jacob Elordi entrega uma das atuações mais expressivas de sua carreira. Seu monstro é ao mesmo tempo imponente e frágil, um ser que desperta empatia sem abandonar a dimensão trágica de sua existência. Ao aprender a ler e refletir sobre o mundo, a criatura passa a compreender a extensão de seu isolamento. O ator expressa essa dualidade com gestos sutis e voz contida, destacando-se em cenas que revelam a humanidade que sobrevive mesmo na rejeição.

Oscar Isaac, por sua vez, encarna Victor Frankenstein com intensidade. O personagem oscila entre o idealismo científico e a loucura messiânica. O cineasta o retrata como um homem convencido de estar prestes a alcançar o bem supremo — a vitória sobre a morte —, mas cuja arrogância o leva à ruína. Embora a performance de Isaac por vezes se aproxime do estereótipo do “cientista louco”, há um esforço em humanizá-lo, sobretudo nas interações com a noiva Elizabeth (Mia Goth) e com o mentor Harlander (Christoph Waltz).

Frankenstein, filme de Guillermo del Toro da Netflix - fatos e curiosidades

Entre o terror e a contemplação

Del Toro constrói um espetáculo visual coerente com sua filmografia. O design de produção de Tamara Deverell e os figurinos de Kate Hawley reforçam o contraste entre o belo e o grotesco. A criatura parece composta por placas e fissuras, enquanto o mundo ao redor exibe decadência e opulência em igual medida. O vermelho e o preto dominam os enquadramentos, sugerindo o conflito constante entre vida e morte.

Ainda assim, a grandiosidade estética do filme nem sempre é acompanhada por ritmo narrativo. A primeira metade se desenvolve lentamente, dedicada a apresentar as motivações de Victor e o ambiente acadêmico que o cerca. Essa escolha, embora coerente com o tom contemplativo do diretor, pode tornar o início excessivamente expositivo. É apenas na segunda metade, quando a narrativa assume o ponto de vista da criatura, que Frankenstein atinge sua potência emocional.

Uma fábula sobre criação e culpa

Como nas melhores obras de del Toro, o horror serve de instrumento para examinar a natureza humana. A relação entre criador e criatura reflete dilemas éticos e espirituais: o desejo de transcender os limites da mortalidade, o medo da rejeição e a solidão do ser consciente. Ao explorar esses temas, o diretor aproxima Frankenstein de títulos como O Labirinto do Fauno e A Forma da Água, em que o fantástico revela fragilidades essencialmente humanas.

Frankenstein, filme de Guillermo del Toro da Netflix - crítica

No clímax, o embate entre Victor e sua criação transcende o confronto físico e se transforma em um espelho moral. O cientista, que buscava dominar a vida, é confrontado por sua própria incapacidade de amar e reconhecer o que produziu. O monstro, por outro lado, encontra uma espécie de dignidade trágica ao aceitar sua condição.

Crítica de Frankenstein, de Guillermo Del Toro

Um sonho finalmente realizado – e disponível na Netflix

Del Toro declarou há anos que sonhava em fazer “o melhor Frankenstein de todos os tempos”. Seu filme talvez não reinvente o mito, mas o reinterpreta com sinceridade e rigor artístico. Entre a fidelidade literária e a experimentação visual, o diretor alcança um equilíbrio raro: o de uma obra que honra a tradição do terror gótico sem abrir mão de questionar o que significa ser humano.

Disponível na Netflix a partir de 7 de novembro de 2025, Frankenstein é tanto uma homenagem à criação de Mary Shelley quanto o retrato de um artista que, ao concretizar seu sonho mais antigo, devolve à criatura o que sempre lhe faltou — uma alma.