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Ferrari: uma biografia padrão mas bem executada

Adam Driver estrela o filme de Michael Mann

Se tem um tipo de filme que Hollywood adora fazer e que raramente foge da fórmula são as cinebiografias. Sejam estas contando a vida toda de alguém ou somente um momento decisivo importante. Ferrari, novo projeto de Michael Mann, segue essa segunda fórmula, abordando um período ímpar na vida do famoso empresário que dá título ao longa.

No filme, acompanhamos Enzo Ferrari (Adam Driver, meio esquisito com cabelo grisalho) em um momento conturbado de sua vida. Sua empresa está à beira da falência, e o casamento com sua esposa e sócia Laura (Penélope Cruz) não está nada bem depois da morte do filho. Além disso, Enzo também mantém outro filho escondido fora do casamento com a amante Lina Lardi (Shailene Woodley).

O longa segue um padrão bem clichê de filmes biográficos de um período na vida de alguém, nunca inovando demais na sua fórmula. Pelo nome, o filme já mostrava desde o começo que iria focar mais na vida pessoal e dramas do famoso engenheiro e menos nas corridas de sua marca. Mas, apesar disso, eu tinha esperanças de que as cenas com carros seriam um diferencial, o que não foi o caso. Infelizmente, as corridas são filmadas de forma confusa e sem o impacto que se esperaria de algo assim. Além disso, os efeitos especiais também não ajudam, principalmente nas cenas de acidente em que os objetos 3D não possuem o peso necessário e parecem muito falsos. Sobre os acidentes, eles realmente são bem exagerados, mas bem realistas, pois o automobilismo nessa época era algo extremamente arriscado.

Ferrari
Divulgação: Neon

Onde o filme falha nas corridas, ele é competente no drama. O roteiro possui diálogos interessantes, e você tanto entende quanto se importa com o que está acontecendo. O automobilismo é conhecido pelo envolvimento de pessoas escrotas em todos os cantos, e aqui não é muito diferente. Enzo não é tratado como alguém bondoso; é um empresário inteligente e sem escrúpulos que está disposto a sacrificar seus pilotos para conseguir o que quer. Outro estereótipo apresentado no filme é o dos pilotos galãs e cheios de personalidade – como é o caso de Alfonso de Portago, interpretado pelo brasileiro Gabriel Leone – algo que se mantém na Fórmula 1 até hoje.

No entanto, o que me incomoda muito é uma certa misoginia por parte do roteiro. Laura Ferrari é mostrada como uma bruxa descabelada e descontrolada, alguém que não conseguiu lidar bem com o luto da morte do filho e faz de tudo para atrapalhar a vida de Enzo. De acordo com fatos históricos, é conhecido que ela era realmente alguém complicada, mas a forma como isso é tratado denota um interesse em torná-la “antagonista”. Já Lina Lardi é a amante mais jovem, dona de casa e um pouco mais paciente em relação a Enzo, fazendo um paralelo com Laura que é alguém mais focada no trabalho e “menos humana”. Por falta de uma rivalidade mais óbvio, a senhora Ferrari acaba sendo o personagem a ser mais odiado por uma decisão que toma lá pro final do filme.

Vale à pena assistir Ferrari nos cinemas?

Se você, como eu, é fã de Fórmula 1 e gostaria de saber mais da história desse homem e do seu legado para o esporte, Ferrari pode te divertir e informar. O longa possui algumas liberdades criativas mas consegue trazer uma história interessante bem fiel aos fatos reais. É um filme biográfico bem padrão que vai mostrar mais um homem branco sem escrúpulos enquanto tenta humanizá-lo ao mesmo tempo. Outro clichê meio cringe é o fato de todos estarem falando inglês com sotaque italiano, parecendo novela da Globo. Eu gostaria que Hollywood já tivesse deixado isso para trás. Se esses pequenos detalhes e uma certa misoginia por parte do roteiro não te incomodarem, dá para tirar um bom proveito do longa.