Gênesis, o começo de tudo. O ponto de partida para algo totalmente novo. Mas também pode ser caracterizado como o início do fim. O fim de algo que aprendemos a amar. E nem mesmo o T-800 mais querido da humanidade pode escapar disso. Velho sim, e mesmo que ele não queira assumir, também está obsoleto.
A trama do novo filme da franquia parece uma imensa colcha de retalhos temporais. E mesmo que fique clara a mensagem de que devemos esquecer o passado, é um pedido inútil tendo em vista que em vários momentos parecia que estava revendo os filmes de James Cameron. E teria sido melhor se realmente fosse uma reexibição.
A espinha dorsal você já conhece. Skynet nasce e acaba com boa parte do mundo. John Connor lidera a resistência para a vitória. As máquinas trapaceiam e mandam o Exterminador pro passado. Kyle volta para impedir que ele mate Sarah Connor e etc. O longa usa isso como base mas insere o fator da viagem no tempo para se diferenciar. Várias possibilidades e realidades temporais nunca exploradas. Tudo novo, mesmo que caminhe sempre para o mesmo fim: a derrota da Skynet.
Nessa nova realidade Sarah (Emilia Clarke) não é a donzela em perigo, pelo menos não em tempo integral. Criada por Arnold Schwarzenegger, a moça vê em Kyle Reese (o intragável Jai Courtney) um lembrete de que não é dona do seu próprio destino. Sendo assim ela alterna momentos de adolescente revoltada e mulher durona. Por mais fodona que a khaleesi possa ser em GoT, aqui ela chega apenas perto de arranhar o desempenho de Linda Hamilton nos 2 primeiros filmes. Ser criada por um robô assassino deveria ter dado culhões maiores a ela. Mas fazer o que, é uma realidade alternativa mesmo.
Matt Smith vale ser citado apenas para acalentar o coração dos fãs de Doctor Who. Porque tirando os flashbacks da mesma cena, ele não fica mais que 20 segundos em tela. E olha que ele é só a personificação da Skynet. J.K Simmons também é bacana. E se você se surpreendeu por saber que ele está no filme, vou guardar o papel dele pra não entregar tudo de bandeja. Depois de tantos trailers pessimamente editados, não restam lá muitas surpresas para o público.
Mas o grande pecado do filme fica mesmo com o crime cometido com a imagem de John Connor. Ele é a resistência, a figura suprema da luta de uma humanidade quase sem esperanças. Aprendemos a amar seu ideal. Vê-lo como vilão é de partir o coração. É o tipo de coisa que não se deve mudar, não importa quantos filmes sejam feitos. É uma franquia tanto dele quanto do vovô Arnold. E ainda bem que ele continua o mesmo.
São dele todos os bons momentos do filme. Mesmo forçando um sorriso para interagir com os humanos, é possível perceber que ele está feliz por dentro. É a franquia da sua vida. O roteiro fraco e furado insiste em mantê-lo longe dos holofotes, mas é impossível deter Arnold Schwarzenegger. É possível se divertir com as lutas entre ele e os outros exterminadores, mesmo que pareçam exaustivamente repetitivas. Se rolasse uma frase eternamente clássica, levantaria sem dúvidas para aplaudir. Mas me contentei com um “Eu vou voltar”. Junte isso a algumas explosões e cenas legalzinhas de perseguição e as duas horas dentro da sala podem passar voando. Ele é o carisma que salva o filme e que ainda vai render uma montanha de dinheiro.
Exterminador do Futuro joga fora uma chance de ouro de consertar os furos temporais e seguir em frente. Clássico é clássico e não tem como lutar contra isso. O filme seria mais inteligente se resolvesse andar por outro caminho. Se pegasse você e dissesse: Esses são os dois filmes clássicos e esse é o nosso. Assim como duas linhas temporais eles podem coexistir. Pena que isso sou eu sonhando, porque obviamente não rola esse diálogo.
É irônico que Gênesis tenha sido o título escolhido para o início da nova trilogia. Porque o primeiro passo foi em direção ao fim. Arrastado, auto-referenciado e melancólico fim.