A Corrida Espacial foi determinante para o desenvolvimento da tecnologia presente em nosso dia-a-dia. Mas, até hoje, existem trechos dessa história que o público desconhece. Elementos importantes que nunca receberam o mesmo tratamento da mídia da época, algo que se estendeu por vários anos. Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures no original) aborda uma das partes mais lindas desse período. Fatos que nunca deveriam ter ficado longe dos holofotes.
Baseada em fatos reais, e descrita anteriormente no livro homônimo de Margot Lee Shetterly, a história é focada na vida de três cientistas negras: Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), que foram cruciais para o sucesso do Programa Espacial Norte-Americano.
Enquanto a Guerra Fria se desenvolve, os EUA precisam encarar outro problema emergencial: a segregação racial. Em um ambiente completamente hostil, onde negros não podem usar o mesmo banheiro, comer no mesmo refeitório e nem tomar o mesmo café dos brancos, elas lutam para desenvolverem seus trabalhos e mostrarem seu valor. E esse é o grande mérito de Estrelas Além do Tempo, saber mesclar tais elementos na hora de contar sua história.
Apesar de todo o peso e revolta que a questão da divisão racial desperta no espectador, a direção de Theodore Melfi (Um Santo Vizinho) consegue imprimir uma leveza durante os 120 minutos da produção. Existem momentos de um humor irônico, utilizado pelas protagonistas diante de situações incômodas. Mas isso não diminui e nem ridiculariza o tema abordado.
Existe espaço para raiva, tristeza, indignação e uma certa falta de esperança. E nem sempre diálogos são necessários para expressar tais sentimentos. Como por exemplo, na cena onde Katherine adentra uma sala repleta de homens brancos que param todos os seus afazeres diante de algo incomum. Ainda assim, Estrelas Além do Tempo nunca nos deixa esquecer que estamos diante de mulheres brilhantes, que batalharam para fazer história.
Apesar do foco bem dividido, a trama ainda é centrada em Katherine Johnson e seu legado para a NASA. Com sua mente extraordinária, ela fez os cálculos necessários para que Alan Shepard se tornasse o primeiro norte-americano no espaço. Também trabalhou no Projeto Mercury, Apollo 11 e Apollo 13, além de publicar vários artigos científicos e receber honrarias e medalhas.
A excelente interpretação de Taraji P. Henson é um dos pontos altos de Estrelas Além do Tempo, transitando muito bem entre momentos de força e vulnerabilidade. Mas Octavia Spencer e Janelle Monáe também tem espaço para desenvolverem suas personagens igualmente geniais, formando assim um trio de química impecável.
A trilha sonora é um show à parte. Composta por Hans Zimmer e Pharrell Williams, ela carrega elementos do Soul, Jazz e Blues. O trabalho de produção também merece destaque, adaptando com competência o cenário dos anos 60. Os figurinos de cores fortes das protagonistas sempre contrastam com os uniformes em tons claros dos outros funcionários, realçando a diferença existente entre eles.
Apesar da presença de clichês inerentes ao gênero, Estrelas Além do Tempo consegue comover e se mostrar um filme relevante. Infelizmente essa história demorou para ser contada, mas nunca é tarde demais para mostrar ao público exemplos de perseverança e sucesso como Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson.