Romance de André Vianco aproxima bullying e terror
Em Estrela da Manhã, Rafael sofre a perseguição de um grupo de valentões na escola. Em casa, não encontra apoio da mãe nem do irmão mais velho. Perdido, tenta encontrar na internet tutoriais de rituais para reencontrar seu pai morto. Ele acredita que somente algo vindo do além poderá ajudá-lo. Quem responde ao seu chamado não é o pai, mas uma entidade que promete protegê-lo de seus detratores durante sete dias. Rafael só quer ser protegido, mas só quando a primeira pessoa de sua lista morre ele descobre que seu pesadelo está apenas começando.
O livro propõe uma reflexão interessante se levarmos em conta o bullying, mas o cenário é construído com algumas falhas. É difícil acreditar na situação nesse aspecto não fantástico de Estrela da Manhã. A justificativa não convence: a mãe do bulinador Maguila (apelido bem sacado) é dona de uma clínica estética onde a mãe do protagonista trabalha, ou seja, ela não pode fazer nada frente às agressões físicas e morais sofridas por Rafael. Já a diretora da escola e até a professora são compradas por serviços grátis de beleza, fazendo vista grossa.
Outro problema é a explicação excessiva. Repetidas vezes seremos avisados que o protagonista queria tanto ter o pai por perto, queria tanto ter a mãe olhando para ele, queria tanto ter o irmão mais velho cuidando dele… as quase trezentas páginas se tornam um tanto longas.
Mas não é por isso que Vianco deixa de mostrar seu talento. Sacadas interessantes continuam presentes em Estrela da Manhã, como o aplicativo Pé na Cova! Em tempos de smartphones comandando nossa vida, o autor faz a devida transição de plataformas onde podemos escolher demônios premium, avaliar o serviço, favoritar os prediletos, pagar com cartão de crédito etc. Também são legais as autorreferências. A série “O último tanque de guerra da Terra” (entre outras invenções de Vianco) que Rafael e Renata tanto amam serve como fonte para os acontecimentos da trama. Também é possível se identificar com aspectos culturais locais do autor osasquense com as descrições locais e comportamentais de alguns personagens.
De leitura simples, Estrela da Manhã pode ser mais facilmente aceito para leitores iniciantes. A edição é do selo Calíope, lançado em 2015. Talvez seja presunção dizer que o autor poderia ter deixado a história um tanto mais enxuta, mas é preciso correr esse risco.