Uma cápsula espacial russa pousa na Terra e um extraterrestre que se conecta ao corpo de um astronauta vem junto, então… opa, calma aí, Peter Parker! Isso não envolve uma nova espécie de Venom. Desde o início de Estranho Passageiro – Sputnik, a sensação de “já vi isso em algum… na verdade, eu sei o lugar sim” é criada. Até mesmo o nome parece uma junção do clássico da ficção científica “Alien – o oitavo passageiro” e da aclamada série com um monstro semelhante, porém mais assustador do que desse filme, “Stranger Things” (que em português é “Coisas Estranhas”), trazendo até uma disposição semelhante na tipologia do título vermelho do pôster com o logotipo da série. Posso ter ido longe demais nessa observação, mas é possível sim. Vale tudo para atrair público, não é mesmo?
Durante a Guerra Fria, a psicóloga Tatiana Klimova (Oksana Akinshina), para fugir de problemas com a justiça, aceita a proposta do general Semiradov (Fyodor Bondarchuk) e viaja para uma base militar secreta, onde tem como missão resgatar as memórias do astronauta Konstantin Veshnyakov (Pjotr Petrowitsch), que sofre de amnésia e que precisa explicar o que aconteceu na sua nave.
Um dos grandes problemas deste filme é o marketing do Brasil. O título original é apenas “Sputnik”, o mesmo nome usado para o programa elaborado pelos soviéticos que foi responsável pelo envio do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial, para a órbita terrestre em 1957. O acréscimo de “Estranho passageiro” é a conhecida artimanha de aumentar as chances de fisgar a atenção do público sedento por terror. Todas as vezes que este artifício funciona é quando o filme entrega algo condizente com a alteração. O filme do jovem diretor Egor Abramenko passa longe de merecer a frase “uma descoberta que vai além da ciência e seus piores pesadelos” inserida no trailer. Tem cenas sangrentas e cabeças destroçadas, mas não é o suficiente para causar o medo pretendido pela divulgação. No entanto, isto não significa que seja ruim, mas aumenta as chances de desagradar quem busca um filme de fuga de extraterrestre assassino.
O filme é bem produzido, trazendo uma importante uniformidade de cenários e estabelecendo bem a época da história. A trilha sonora que é muito equivocada. Acredito que a orquestra, quando gravou as excelentes canções, tinha uma ideia bem diferente do que viria a ser o filme. Músicas fortes demais para cenas que não acompanham o ritmo.
O trabalho de CGI do que se espera ser o principal vilão deste filme é caprichado e bem interessante. O extraterrestre tem detalhes biológicos instigantes o bastante para manter a atenção, o problema é a limitação das ações do bicho. Basicamente, só corre, ataca e some.
O elenco faz um bom trabalho. A escolha da atriz Oksana Akinshina é certeira, já que a personagem Tatiana Klimova precisa parecer quase sem emoção para encarar a criatura asquerosa que tem um comportamento imprevisível. O quase romance entre ela e o astronauta traumatizado Konstantin funciona se deixar de lado a velocidade com que tudo acontece.
Enquanto o primeiro ato apresenta o principal problema da trama, o que se vê em seguida é uma mudança radical no que parecia ser a ideia inicial. Os protagonistas se vêem envolvidos em uma fuga de seres humanos com atitudes perversas, e depois que um debate moral é levantado, não existe mais chances de o parasita espacial voltar a ser o destaque. O desfecho tem mais clima de aventura do que terror e isso é tão decepcionante quanto as conveniências do roteiro para levar a história ao que precisa acontecer. A última cena parece um final alternativo que deveria ter sido descartado.
Sem trazer grandes novidades, Estranho Passageiro – Sputnik faz o básico bem feito, mas com deslizes, principalmente ao tentar emocionar sem a menor sutileza. Ao menos tem material o suficiente para agradar em algum aspecto.