Éden (2024) - Crítica do filme dirigido por Ron Howard Éden (2024) - Crítica do filme dirigido por Ron Howard

Éden (2024) | Crítica do Filme | Prime Video

Disponível no Prime Video, Éden (2024), dirigido por Ron Howard e escrito por Noah Pink (Tetris), parte de uma história real ocorrida na década de 1930 nas ilhas Galápagos. O filme revisita o episódio dos europeus que, buscando uma vida fora da civilização, transformaram o isolamento em um campo de batalha moral e psicológico. Com atuações de Jude Law, Vanessa Kirby, Daniel Brühl, Sydney Sweeney e Ana de Armas, a produção combina drama, sátira e ironia para expor os limites da idealização humana diante da natureza e de si mesma. Confira a crítica do filme:

Éden é o experimento utópico em colapso

A narrativa acompanha o Dr. Friedrich Ritter (Jude Law) e sua companheira Dora Strauch (Vanessa Kirby), um casal alemão que abandona a Europa para viver de forma autossuficiente na ilha desabitada de Floreana. Friedrich escreve um manifesto em defesa de uma nova sociedade livre das corrupções da civilização, mas sua convivência com Dora e o ambiente inóspito revela contradições profundas entre teoria e prática.

O isolamento é interrompido com a chegada de outro casal, Heinz Wittmer (Daniel Brühl) e Margret (Sydney Sweeney), acompanhados do filho pequeno. Logo, as tensões aumentam: Friedrich enxerga os novos moradores como invasores, e a convivência entre os grupos se torna insustentável. O equilíbrio precário desmorona de vez com a aparição da baronesa Eloise Bosquet de Wagner Wehrhorn (Ana de Armas), que desembarca com dois amantes e planos de construir um hotel de luxo na ilha.

Ana de Armas rouba a cena

É com a chegada da baronesa que Éden encontra seu tom mais afiado. Ana de Armas interpreta uma mulher teatral, manipuladora e carismática, que encarna o caos e a ambição que Friedrich tanto critica. Sua presença transforma a narrativa em um duelo de egos e hipocrisias, revelando como os ideais utópicos podem se corromper rapidamente diante do poder e do desejo.

Howard permite que o filme oscile entre o drama e a comédia, explorando o absurdo da convivência humana em condições extremas. Há momentos em que o longa se aproxima de O Senhor das Moscas, mostrando como a pretensa civilização pode desabar quando confrontada com a escassez e a vaidade.

A natureza como personagem em Éden

A fotografia de Mathias Herndl reforça o caráter hostil da ilha Floreana. Em vez de um paraíso tropical, o que se vê é um cenário árido, de pedras vulcânicas e vegetação rarefeita — um reflexo da tensão constante entre os personagens. A trilha sonora de Hans Zimmer intensifica esse desconforto, conduzindo o público por uma espiral de inquietação e paranoia.

Howard e Pink constroem uma história que funciona tanto como crônica de sobrevivência quanto como sátira sobre o ideal de pureza humana. O roteiro sugere que a busca por um “Éden” naturalista não passa de mais uma forma de arrogância: ao tentar escapar do mundo, os personagens acabam recriando nele as mesmas falhas que condenam.

Fatos e curiosidades de Éden, filme que chega ao Prime Video

O riso amargo da tragédia

Apesar de seu tema sombrio, Éden é surpreendentemente divertido. As disputas mesquinhas entre os personagens, as cenas de jantares desastrosos e o contraste entre as posturas filosóficas e o comportamento primitivo tornam o filme uma experiência curiosamente envolvente. Quando o isolamento dá lugar à violência, Howard não suaviza o desfecho — mostrando que, em última instância, a natureza humana é incompatível com qualquer ideal de perfeição.

Crítica de Éden: vale à pena assistir ao filme no Prime Video?

Éden é uma reflexão sobre o fracasso das utopias e sobre a impossibilidade de escapar das contradições humanas. Ron Howard transforma um episódio real em uma parábola sobre moralidade, poder e autoengano. Jude Law, Vanessa Kirby e Daniel Brühl sustentam o drama com intensidade, mas é Ana de Armas quem domina a tela, simbolizando o lado mais caótico e irresistível da humanidade. No fim, o paraíso sonhado se revela apenas um espelho — distorcido e brutal — de quem tenta habitá-lo.