Que estamos na era da nostalgia não é novidade para ninguém, principalmente quando somos bombardeados de produções midiáticas que apostam fortemente nisso. Boa parte é um grande erro, mas, porém, contudo, todavia, entretanto, quando acertam é para valer. Dito isso, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes é com certeza um acerto.
Buscando lá nos confins da década de 1970 por essa nostalgia, o longa traz refrescos nesse quesito, sendo uma produção sem pretenções megalomaníacas, nos lembrando mais uma grande campanha de RPG com os(as/es) amigos(as/es) mais aloprados que temos e que tornam essas reuniões de jogatina divertidíssimas. E os personagens dessa aventura cinematográfica são figurinhas carimbadas dessas mesas, diferindo um pouco do grupo clássico, mas acertando demais nas escolhas. Mas vamos por partes.
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes já acerta ao ter uma premissa simples, como qualquer campanha, que vai se complicando um pouco mais ao longo do caminho, até chegar no clímax principal, mas com várias sidequests para evitar que a história seja simplesmente um a+b. Aqui, um grupo de aventureiros, comandado pelo bardo Edgin (Chris Pine), para completar uma missão – no caso, roubar de um local uma relíquia importante – acaba se envolvendo com quem não deveria, sendo traído por um de seus membros e tendo que, no final das contas, ir atrás dele para conseguirem o item, se envolvendo em uma história maior do que eles.
Apesar desse resumo grosseiro, a história tem tudo: um grupo de aventureiros desajustados, composto por Edgin, a bárbara Holga (Michelle Rodriguez), o mago Simon (Justice Smith) e a druidresa Doric (Sophia Lillis), com uma missão inicial supersimples, mas que acabam caindo de cabeça em uma conspiração maléfica; itens mágicos encontrados de forma aleatória ou roubados; criaturas mágicas tiradas diretamente dos livros de monstros do RPG original; cenários destacados pelo belíssimo trabalho de fotografia, com aquela pegadinha medieval mágica; NPCs superpoderosos que aparecem só para ajudar o grupo e depois irem embora; e muita comédia situacional.
Os personagens são extremamente carismáticos, e os atores parecem estar se divertindo no papel, mesmo que alguns, como Justice Smith e Chris Pine façam basicamente o que sempre fazem. Hugh Grant, por outro lado, parece estar feliz demais fazendo o canastrão traidor, o que dá um tom a mais pro seu personagem.
Cada membro da equipe tem o seu momento de brilhar, às vezes todos juntos, nenhum deles é desperdiçado – muito menos as figuras femininas, que normalmente são deixadas de lado ou se tornam apenas um interesse amoroso, no máximo uma personagem que vai impulsionar o protagonista. Dungeons & Dragons é uma produção que respeita anos e anos de mesas de RPG em que homens e mulheres puderam se divertir de forma igualitária (ainda que haja muito machismo em muitos grupos), assim como pessoas no geral.
Você não precisa ter jogado Dungeons & Dragons para entender o filme ou gostar dele, funciona muitíssimo bem como uma comédia/aventura. É uma delícia de assistir, principalmente por ser despretensioso e não ter nenhum compromisso em se levar a sério, o que permite várias “trapaças” que, ao contrário de atrapalharem, só engajam. Além disso, só o fato de não tentar ser um épico inesquecível já ganha todos os pontos possíveis pra mim, pois sabemos que nos dias atuais somos obrigados a engolir um monte de produções que se esforçam para serem grandes epopéias narrativas e visuais, o que cansa – principalmente porque a maioria delas é simplesmente… esquecível e fraca. Aqui, vamos de simples e divertido.
E amém por isso.
A trilha sonora não é marcante, mas durante as 2h14 de filme cumpre bem demais a sua função, ajudando a impulsionar as cenas com músicas que seguem a ação ou mesmo as pausando, para que o silêncio do fundo dê ênfase para o que está acontecendo.
Você, fã de RPG, vai encontrar todas as referências, homenagens, easter eggs possíveis; e você, que não é, não se preocupe. A sua experiência vai ser completa mesmo assim.