Duna 2 Duna 2

Duna 2 chega como um clássico da ficção científica

A influência de Duna para a ficção científica moderna é muito difícil de ser medida. A obra de Frank Herbert é uma das mais importantes do século com seus conceitos tanto científicos como esotéricos. Agora, em Duna 2, o diretor Dennis Villeneuve faz o impossível pela segunda vez e consegue adaptar essa obra que muitos consideravam inadaptável.

Nesta continuação, seguimos acompanhando a jornada de Paul Atreides (interpretado por Timothée Chalamet), que agora consegue se filiar aos Fremen para continuar a vingança contra aqueles que destruíram sua família. Além disso, as profecias de que Paul  é o messias começam a se concretizar e o personagem precisa aceitar ou recusar esse destino. Quem achou o primeiro filme de Duna parado vai ficar muito feliz com essa continuação.

Enquanto o primeiro filme se preocupa em estabelecer esse rico universo e seus diversos personagens e facções, o segundo vai focar principalmente nos conflitos que vão definir o futuro de Arrakis. Apesar da direção de Villeneuve continuar com esse ar contemplativo, o novo longa tem muito mais ação e situações importantes acontecendo.

O roteiro faz um bom trabalho em tentar resumir a quantidade de acontecimentos, mas há um sentimento de pressa em certos momentos, mesmo sendo um filme longo. Nesse quesito, acabo preferindo mais a estrutura do primeiro longa, que é mais alienígena e tem uma estrutura mais esquisita. Aqui, temos uma narrativa muito interessante, mas às vezes um pouco conservadora demais. O principal ponto fraco é a forma clichê como os vilões são retratados e como alguns conflitos são resolvidos.

Tirando isso de lado, Duna de Villeneuve continua um deleite de ser visto e ouvido, principalmente em salas de cinema com uma melhor qualidade. O uso de CGI é um absurdo, muito melhor do que filmes da Marvel que custaram mais caro. Você consegue sentir o peso e a imponência das grandes máquinas e estruturas. Além disso, a fotografia capta perfeitamente as texturas e formatos do deserto de Arrakis, sendo uma paisagem tanto bela como ameaçadora. Outro ponto de destaque é o lindo e opressor planeta dos Harkonnen, que possui uma excelente fotografia preto e branco com alto contraste, devido ao seu sol negro. Como cereja do bolo, temos cenas de ação bem menos confusas e mais fáceis de entender, que superam as do primeiro filme.

Como alguém que já tentou ler o primeiro livro de Duna umas três vezes e falhei miseravelmente, eu valorizo demais como o longa consegue trazer a construção de mundo do livro para as telas. Uma das coisas mais interessantes de toda ficção científica é como elas conseguem trazer temas do nosso mundo e transpor isso para uma realidade fantástica, extrapolando alguns conceitos. A jornada de Paul para se tornar um líder de fanáticos religiosos é muito bem construída. Ele é um herói com um passado trágico, e fica difícil não torcer por ele, ao mesmo tempo que tudo que acontece em Duna 2 é algo que foi orquestrado perfeitamente pelas Bene Gesserit. O filme traz muito bem esses questionamentos sobre destino e também sobre como situações extremas nos fazem tomar decisões absurdas.

Duna 2 é um milagre cinematográfico. A continuação de uma história complexa feita por um diretor que ama o produto original e consegue muito bem trazer a beleza e opressão desse mundo para as telas de uma forma crível. Desde o design de produção até as atuações, é uma delícia acompanhar essa história. Essa segunda parte foca mais nos conflitos e pode até ter apressado algumas coisas com o objetivo de ter uma narrativa mais dinâmica, mas isso não é demérito, pois essa é uma obra extremamente difícil de ser adaptada. Saí do cinema com um gostinho de quero mais, só vamos torcer para que as bilheterias continuem boas e que o longa arremate uns bons Oscars.