“Uso a magia para proteger esse mundo. Mas nunca imaginei que a Magia precisaria da minha proteção”
Possíveis spoilers da revista do Doutor Estranho à seguir.
Eis que podemos fechar com um review esse novo arco do Doutor Estranho, abrangendo as edições de #1 à #5. Como adiantamos através de um OpinaNerd, A Marvel Comics está se beneficiando muito bem desse hype vindo com o filme de 2016 nos cinemas, colocando artistas talentosos para criar histórias divertidas de acompanhar, sem perder a originalidade e essência do herói.
A trama acompanha o Doutor Estranho que, na condição de Mago Supremo, é constantemente requisitado para resolver problemas relacionados à magia, como um garotinho possuído por seres interdimensionais. O problema é que esses seres supostamente não deveriam estar habitando nossa dimensão, despertando a curiosidade de Stephen Strange em relação a essa anomalia (sim, existem coisas estranhas até no mundo do Doutor Estranho). O doutor, por sua vez, está cada vez mais desgastado fisicamente devido ao seu combate às forças mágicas, mas infelizmente não há tempo para um merecido descanso. Uma nova ameaça se desenha de muito longe, na qual será colocado em risco todo o universo da magia, sem nenhuma exceção.
A história acerta logo de cara ao mostrar as consequências físicas do Doutor Estranho: úlceras, vômitos e olhos sangrando não são incomuns quando se tem como trabalho ser o Mago Supremo. Com isso é gerada uma sensação de desconforto, aumentando gradativamente de acordo com os desmembramentos da trama. Como diz o Ancião em determinado momento: “todo soco é dado com um preço”.
Não é feitiçaria, é tecnologia
O principal ineditismo aqui é a forma como Jason Aaron trabalha a magia. Imaginamos esse universo particular como algo inexorável, onde sua imponência permanece inalterada com o passar das eras seja na dimensão que for. O roteiro desconstrói esse conceito muito bem, dando origem a uma forma nova de preocupação para os heróis. Sem dar muitos spoilers, esse novo tipo de vilão irá abordar o clássico embate ‘máquina x magia’. Isso é demonstrado de vários modos nas páginas ao vermos livros morrendo (literalmente!) e magias não funcionando. E o suspense do ambiente é muito bem introduzido, com as criaturas de outras dimensões migrando para a nossa, devido à devastação de seu local de origem.
Essa versatilidade da trama é muito bem arquitetada por Aaron, e mesmo nos textos mais carregados somos recompensados com a bela arte de Chris Bachalo, que eventualmente flerta com o surreal (a inserção de outras criaturas nas cidades, invisíveis aos olhos do cidadão comum, ficou sensacional).
Como não poderia faltar numa história do Doutor Estranho, as coisas são solucionadas mais pela cabeça do que pelo braço. O maior problema desse novo arco é a falta de conclusão, onde tudo fica aberto para a sequência dos recém-chegados Empirikul. Ao menos a mitologia própria não só do Doutor Estranho, mas como de todo o universo mágico da Marvel, foi reforçado nessa nova HQ.
Diferente do que é usado com o Homem de Ferro, principal carro-chefe cinematográfico da Casa das Ideias, não há uma infestação de personagens como Vingadores aqui, afim de dar mais notoriedade para a edição. Os poucos que aparecem, como Feiticeira Escarlate, é de modo muito pontual para ajudar na ambientação, mas é só. Outro ponto interessante é a importância de Wong para a trama. Acostumado ao papel de coadjuvante simples, onde sem ele Stephen nunca conseguiria chegar onde chegou em sua luta mágica e solitária pelo bem estar da terra, dessa vez ele possui um segredo que guarda um dos principais segredos da trama: Wong deixou monges dispostos a morrer pela preservação da magia como uma espécie de bateria ou escudo para Strange, onde os danos sofridos pelo Mago Supremo são canalizados nesses indivíduos. Algo um tanto imoral que Wong escondeu dele. A nova assistente de Stephen, Zelma Stanton, é apenas um elemento narrativo mas é muito bem usada, seja pela profissão (bibliotecária) ou pelo seu problema inicial abordado na segunda edição.
Doutor Estranho é publicado no Brasil pela Panini.