Eu sempre defendi que nem todo jogo precisa ser sobre salvar o mundo ou resolver um grande problema. Às vezes, tudo o que precisamos é de bons personagens, um lugar bonito e uma pequena história para contar. Dordogne é o mais novo exemplo dessa máxima, focando seu jogo em uma narrativa intimista sobre Mimi, uma jovem adulta que decide relembrar o seu passado em uma pacata casa na beira do rio Dordonha, na França.
Tudo que ela lembra da avó Nora foi a última visita que fez à casa dela com 12 anos de idade e, mesmo assim, sem muitos detalhes, como se sua memória daquele mês de férias tivesse se apagado. Com a notícia da morte da avó, Mimi decide ir novamente até a casa depois de 20 anos para entender mais sobre o seu passado, sobre sua vovó e sobre o que aconteceu naquele verão.
É importante afirmar o quão intimista é a história de Dordogne: mesmo com a construção de um pequeno mistério do que aconteceu no fatídico dia que Mimi está tentando relembrar, nada é extremamente dramático. O jogo é realmente sobre o trauma de uma criança, suas relações familiares e o seu desejo de conhecer mais sobre sua própria história, que consegue ser muito bem construída do começo ao fim dos oito capítulos. A troca de contextos — entre uma confusa Mimi adulta e uma curiosa Mimi criança — dá um dinamismo bem legal à narrativa, mostrando o impacto que cada memória tem na história dela.
Mecanicamente, o jogo não oferece exatamente desafios supercomplexos, ou até mesmo quebra-cabeças, no geral. Eu gostei de pensar em Dordogne como um livro interativo (como os clássicos em CD-ROM dos anos de 1990/2000), com pequenos momentos interativos muito bem construídos para prosseguir com a história. Você ainda ajuda Mimi a construir seu fichário durante os dias, usando fotos, gravações, poemas e adesivos que são possíveis de ser encontrados durante cada capítulo.
Dito tudo isso, mesmo com uma história mais simples e uma interatividade mais limitada, não tem como não elogiar a coisa mais impressionante de Dordogne: o visual inspirado em aquarelas. Não teve um único momento, do começo ao fim, que eu não ficasse impressionado com a beleza dos cenários, dos personagens e de tudo que via a cada capítulo diferente. E se você ainda não se impressionou, a primeira vez que você anda no rio Dordonha é facilmente um dos momentos mais bonitos dos jogos dos últimos anos.
Eu amo esses pequenos jogos, que nos levam para lugares longe de casa para contar histórias emocionantes, e Dordogne consegue fazer muito bem todos esses quesitos. Se você procura quebra-cabeças mais complexos e um mistério de sair fumaça, talvez outros jogos sejam mais interessantes. Mas se tudo o que você precisa é ver um rio no interior da França do jeito mais bonito que já existiu pela visão de uma fofíssima criança, as portas da casa da vovó Nora estão abertas.
Dordogne está disponível para PC na Steam, para PS4 e PS5 na PlayStation Store, no Nintendo Switch e para na Xbox Store / Xbox Game Pass para Xbox One, Xbox Series e jogo em nuvem.
