A Pixar tem um jeitinho todo especial e só dela de mexer com o nosso íntimo e embrulhar o nosso estômago
Quando bati o olho em Dois Irmãos – ver trailer, a comparação com Bright – filme original Netflix lançado em 2017 – foi inevitável: um mundo fantástico onde criaturas mágicas vivem em uma sociedade contemporânea, com a magia sendo substituída pela tecnologia, e fadas, centauros, elfos e outros seres mitológicos convivendo harmonicamente me pareceu bem similar ao filme de Will Smith e ao RPG Shadownrun. Mas as semelhanças acabam por aí.
Nessa história, acompanhamos a história clichê do nerd introspectivo Ian Lightfoot que, em seu aniversário de 16 anos, sonha em ser mais parecido com seu falecido pai. Ian mora com sua mãe e seu irmão, Barley, que é fissurado na história antiga e acredita que magias e jornadas épicas estão atreladas em seu sangue e precisam ser preservadas. Em meio a tudo isso, eles são surpreendidos com um presente póstumo de seu pai e precisam encarar uma tremenda aventura para resgatar um tesouro perdido em um mundo nem tão estranho assim.
A estrutura de roteiro da Pixar é algo que já está batido em quase todos os seus filmes: dois personagens que normalmente não se gostam ou são muito diferentes e precisam se unir em uma aventura na busca por algo que, normalmente, não é tão mais importante do que a própria jornada em si. Não é segredo que Dois Irmãos siga essa regra, mas assim como Viva – A Vida é Uma Festa e Procurando Nemo, é justamente na hora em que você pensa que tem o roteiro nas mãos, até que ele te pega no colo e corta deliciosas cebolas perto de seus olhos.
A premissa com um tema que envolve irmãos e o relacionamento com o próprio pai conversa com algo bastante forte e presente na minha vida. Há cenas que são bastante simbólicas que, para escrever este texto, estou me segurando para não torná-lo piegas demais.
Para além do chororô, há também muitas cenas de ação, suspense, aventura e épico. Tá tudo lá! Aventura completa. Existem, sim, alguns defeitos, uma grande ‘barriguinha’ ali no meio, umas decisões de roteiro que me fizeram repensar bastante o papel de alguns personagens e pontos mal fechados. Mas nada que comprometa o papel e a mensagem que o filme quer passar.
Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (que, na minha opinião, perdeu para excelente tradução de Portugal: Bora Lá) é de fato uma grande jornada, mas que não necessita de magia para se tornar extremamente poderosa.