Doctor Who é uma série sobre mudanças, literalmente. Ela não seria relevante em 2022, quase 60 anos depois de sua criação, se não tivesse mudado muito desde 1963. Não falo apenas dos atores, produtores e da equipe envolvida — a ideia de mudar completamente sem perder sua essência é parte do que faz a Doutora ser a personagem que é. Todos os Senhores do Tempo podem se regenerar ao enfrentar uma morte certa, alterando personalidade e aparência física, mas mantendo memória e valores. The Power of the Doctor, o último especial de 2022, sabe muito bem disso.
Toda regeneração vem com uma carga emocional muito grande para os fãs da série. Não só é o momento de se despedir daquele rosto que acompanhou a série nos últimos anos. É também a hora de se despedir de vários elementos da era que termina, e muitas vezes, até mesmo de toda uma equipe de produção que deu o tom de muitas aventuras na TARDIS. E, claro, é o momento de ter expectativas para o que vai vir pela frente e quais são as novas mudanças para uma série tão amada por todo o mundo.
Power of the Doctor, em resumo
Enfim esse momento chegou para a 13ª Doutora, interpretada por Jodie Whittaker, assim como para Chris Chibnail, agora ex-showrunner da série. Ambos enfrentaram muitas críticas nas últimas 3 temporadas de Doctor Who: seja pelo roteiro fraco de muitos episódios quanto pelo preconceito com uma mulher assumindo o papel de protagonista. Mas The Power of the Doctor é um encerramento feito com muito carinho e emoção para uma representação tão importante na história da série, tornando-se um ponto altíssimo de qualidade entre as tramas que vimos nos últimos anos.
Seguindo um pouco o esquema de Doctor Who: Flux, o especial também tem um contexto tão cheio de coisas que fica difícil entender o que está acontecendo no primeiro momento. Seus maiores inimigos — Daleks, Cybermen e o insano Mestre de Sacha Dhawan — estão causando problemas aparentemente conectados pelos tempo e espaço. Tegan e Ace, companheiras que não apareciam desde a série clássica, estão de volta para uma reformada UNIT. Ao fundo, a ameaça feita ao fim da última temporada, antecipando o adeus da Doutora.
No entanto, diferente de Flux, não existem elementos realmente novos sendo introduzidos. Cada peça do grande quebra-cabeça de The Power of the Doctor já foi apresentada em algum momento, da série clássica às últimas temporadas. Mesmo que algumas conclusões sejam um pouco corridas, o ritmo do episódio é ótimo. Ação, emoção e muitas referências se misturam de forma muito boa para criar um dos melhores episódios da série em anos.
Legado de Doctor Who pelo tempo e espaço
Falando nessas referências, é difícil não pensar como já estamos em ritmo de aniversário. Decerto que esse episódio também foi feito para comemorar os 100 anos da BBC, mas o peso de ser uma série com quase 60 anos de idade é incrível. Janet Fielding e Sophie Aldred pareceram que nunca saíram de cena, trazendo de volta suas personagens com maestria. Kate Stewart trazendo a UNIT de volta de um lugar que nunca devia ter saído. Algumas outras surpresas, que não vou contar, também completam o pacote, mostrando o legado da série como não se via há tempos na era Chibnail.
Ao fim, a cena de regeneração é facilmente uma das mais bonitas visualmente da história. E também uma das mais emocionantes, colocando em destaque a alegria, o sorriso e a esperança que foram as marcas registradas da 13ª Doutora. É com esses sentimentos que olho pra minha série favorita para os próximos anos também. Mudanças são necessárias, novas histórias vão ser contadas e a TARDIS vai continuar voando pelo tempo e pelo espaço. Obrigado, Jodie Whittaker, por ser uma Doutora incrível! Que venham os 60 anos de Doctor Who!