Christopher Nolan pode espernear e os jurados de conceituados festivais de cinema podem fazer cara feia, mas a verdade é que a Netflix incorporou o streaming ao DNA da Cultura Pop. Mudando não apenas a forma como consumimos séries, mas também como enxergamos o cinema. Claro que todo esse destaque atraiu concorrentes, como Amazon e Hulu. Até mesmo a Globo enxergou que esse é o futuro da exibição de conteúdo. Agora esse jogo irá ganhar um novo e imponente integrante: a Disney.
No anúncio oficial realizado hoje (08), a casa do Mickey revelou os planos de estabelecer sua própria plataforma de streaming, levando consigo todas as suas produções originais presentes em outros serviços. Nesse caso, em especial, a Netflix. A estratégia bilionária teve início com a compra majoritária das ações da BAMTech, empresa de tecnologia que pertencia a Major League Baseball.
Não é por acaso que o primeiro passo é justamente criar um streaming esportivo específico para a ESPN, que exibe entre outras atrações a NBA, NHL, NFL e alguns campeonatos de futebol. O lançamento está previsto para o início do ano que vem. Após esse primeiro passo, a Disney pretende lançar sua plataforma, numa ousada jogada para já disponibilizar aos assinantes filmes como Frozen 2, Toy Story 4 e o live action de Rei Leão. Além dos longas da Pixar. Não existe forma melhor de vender um produto. Vale lembrar, porém, que isso está restrito ao mercado norte-americano. Pelo menos por enquanto.
Mas e a Netflix? Como ela fica depois desse anúncio? Segundo declarações da Disney e da gigante de Los Gatos, o processo de migração não ocorrerá da noite para o dia. Pelo menos até o final de 2019 os assinantes dos EUA podem ficar despreocupados. Porém, esse não é o primeiro abalo que atinge o catálogo da Netflix. Ao investir no Fox Play, a casa dos Simpsons fez questão de retirar algumas atrações queridas pelos fãs, como How I Met Your Mother. A indignação do público adiou a sentença por um tempo, mas ela é inevitável. Na selva dos negócios, jacaré que dorme vira bolsa.
Mas a jogada da Disney pode causar um estrago considerável no futuro. Ainda que não tenha ficado claro, produções da Marvel e da Lucasfilm podem fazer parte do pacote de mudança. Assim, filmes e séries de super-heróis e tudo do universo de Star Wars deixariam o menu da Netflix. Um problema e tanto, principalmente quando a maior parte dos assinantes ainda não entende que o futuro é justamente apostar em conteúdo original. Propriedades de terceiros ainda são o grande atrativo para esse público.
Curiosamente, tudo isso é divulgado um dia após a Netflix anunciar a compra da Millarworld, conglomerado de HQ’s criado por Mark Millar. Fica ainda mais clara a estratégia comercial por trás desse movimento, preparando o terreno para a retirada de atrações com um apelo considerável entre os espectadores. No momento, o Brasil é um mero espectador dessa dança das cadeiras. Fruto da diferença de contratos feitos pela Netflix em cada região do mundo. Mas se ainda existem reclamações sobre a escassez de conteúdo, a tendência é que esse coro ganhe mais vozes.
Apesar da empolgação gerada no mercado e bolsas de ações, o serviço da Disney torna claro um problema que ainda parece ser ignorado pelo público. O discurso de que concorrência faz com que as empresas melhorem seus serviços é até válido, mas cada novo anúncio fragmenta os conteúdos entre várias plataformas. Criando assim a necessidade de assinar a maioria deles para acompanhar, de forma legal pelo menos, os grandes hits do momento.
Claro que ninguém será obrigado a pagar por todos os serviços disponíveis, mas vislumbrar uma bolha mercadológica não é uma loucura tão grande assim. De qualquer forma, a Disney usa todo o seu poder para alterar o equilíbrio da balança. E até que se prove o contrário, quem sai ganhando é o público.