Quando o primeiro Dishonored saiu ele fez um grande sucesso, mas nunca foi um daqueles jogos super famosos que tem uma legião de fãs. O jogo possuía um ar independente mesmo pertencendo a uma grande distribuidora como a Bethesda. Mas aqueles que se aventuraram pelas ruas de Dunwall ficaram maravilhados pelo que viram e muito empolgados por uma sequência. No final do ano passado a Arkane Studios lançou a sequência do seu carro chefe e não decepcionou.
História
Dishonored 2 conta a história anos depois dos eventos do primeiro jogo. Emily Kaldwin, agora está crescida e segue como imperadora tendo seu pai, Corvo Attano, como principal conselheiro. A noite, quando não está na corte, Emily treina as artes dos assassinos com seu pai, de início o que parece somente uma brincadeira vai servir bastante para o que vem a seguir. Emily sofre um golpe de estado de uma suposta tia, chamada Delilah, que volta para a cidade juntamente com o Duque de Serkonos e um exército de soldados mecânicos, tomando o lugar da nova imperatriz. A história aqui se divide dependendo da escolha do jogador, ele pode escolher entre Corvo e Emily para jogar, sua escolha vai fazer com que o outro personagem seja petrificado pelos poderes mágicos da sua oponente. O jogador então é preso e precisa fugir para tomar o lugar da nova imperatriz e vingar o golpe.
No roteiro nós vemos uma das poucas falhas do jogo, a história se parece muito com a do primeiro jogo onde o jogador precisa vingar um golpe de estado e tomar de volta sua honra depois de ser “desonrado” injustamente. Pessoalmente eu recomendo jogar com a Emily, pois é uma evolução natural da história. A jovem deixa de ser a donzela em perigo para virar a salvadora do seu pai e isso é uma boa evolução de personagem. Por falar nisso, a representatividade feminina é bem forte no jogo, temos personagem principal, suporte da personagem e e principal vilã como mulheres tornando os homens com papeis bem secundários. O desenrolar do resto da história não tem nada de muito interessante ou inovador, principalmente escolhendo Corvo.
Mas a grande sacada em termos de história de Dishonored não vem da sua história principal. Os jogadores mais atentos vão perceber que o universo criado para a franquia é muito rico em detalhes e histórias pregressas. Existe muito background por traz das cidades, personagens e história daquele mundo que podem passar despercebidos se o jogador não ler os textos, escutar as conversas e prestar atenção até nas músicas cantadas pelos músicos de rua. Além disso, o cenário do jogo também conta uma história, até mesmo o modo como a energia é usada (eletricidade a partir de um óleo de baleia) é importante para desenvolver aquele universo e contar uma história. A forma como o personagem ganha poderes nos dois jogos é da mesma forma, pela entidade conhecida como o Estranho, um ser que vive em um mundo de trevas e tem objetivos misteriosos, toda a religião em volta dele é misteriosa e pouco desenvolvida, o que pode transformar a criatura como um truque fácil de Deux Ex Machina ou algo bem intrigante, pegando inclusive referências de obras como O Rei de Amarelo.
Jogabilidade
Mas é nas mecânicas de jogabilidade que Dishonored 2 brilha. Seguindo o exemplo do primeiro jogo, aqui o jogador tem uma liberdade quase infinita para realmente terminar a fase da forma que quiser. Cada fase sempre vai lhe dar uma opção letal e outra não-letal para se livrar de seus inimigos, sejam simples soldados que você encontra em cada esquina ou até mesmo os personagens-chave para a história que precisam ser eliminados. Cada “chefe” de fase possui um modo opcional e mais sutil de ser eliminado sem precisar ser morto, geralmente esse modo é mais difícil de ser completado mas em alguns momentos pode até ser mais cruel que a morte. Você pode terminar o jogo todo sem literalmente matar ninguém ou sem ser visto em nenhum momento, isso deixa os fãs de stealth como eu malucos pois nos dá opção de sair como um louco nas fases procurando ser o mais furtivo e menos letal possível. Cada fase te dá no final uma nota baseado no seu comportamento, levando em consideração a sua letalidade e furtividade. No final do jogo, dependendo das suas ações, a história do mundo será moldada, apesar de forma sutil.
Os poderes vistos no primeiro jogo estão de volta e mudando de acordo com o personagem que você escolhe. Temos poderes super divertidos de serem usado que lhe ajudam a atingir áreas do mapa para se livrar de obstáculos deforma furtiva, ou poderes que podem eliminar diversos inimigos ao mesmo tempo de forma violentíssima. Essas habilidades sozinhas já são divertidas de serem usadas, mas os jogadores mais criativos vão criar combinações entre poderes e armas que facilitam a vida e geram momentos interessantes para nosso assassino. Uma das habilidades, a corrente, conecta inimigos fazendo com que todos tenham o mesmo destino, exploda a cabeça de um com uma bala e todos os outros conectados vão morrer instantaneamente da mesma forma. Algumas habilidades de Corvo e Emily são diferentes, isso gera uma rejogabilidade interessante pois eles podem ter formas diferentes de terminar as fases, além de falas exclusivas para cada um.
Agora se tem algo em que outros jogos podem aprender com Dishonored é com seu Level Design, ou seja, a forma como as fases são criadas. O jogo mostra que não precisa criar uma cidade viva cheia de coisas como um GTA, as fases de Dishonored são contidas com início, meio e fim, mas ao mesmo tempo a liberdade que o jogador possui é total. Você pode ir para quase qualquer lugar usando seu teleporte e enfrentar os inimigos da direção que você preferir. Combinando armas e poderes, o jogador pode criar armadilhas ou sair de peito aberto matando todos em seu caminho. Uma boa sacada do jogo é o item que lhe mostra os segredos escondidos na fase, de forma sutil essa ferramente faz você explorar o cenário para descobrir side-quests e outras narrativas menos lineares. O jogador não explora por explorar, existem direcionamentos que fazem o personagem encontrar itens e segredos de forma natural e orgânica. O cenário é montado com muita preocupação, a fim de que ele possa entregar ferramentas para todo tipo de jogador, cada run na fase vai ser diferente e lidada de forma nova, como se fosse a primeira vez.
O Level design é tão competente que existem duas fases no jogo que as suas ideias e concepções já davam jogos completamente novos por si só. Em uma delas o jogador se encontra em uma mansão modular, que se modifica como um cubo mágico, criando rotas e caminhos totalmente novos. Eu outra fase, o jogador usa um item para mostrar o passado através de uma lente ou viajar entre tempos diferentes, fazendo com que elementos do passado deixem de existir e obstáculos podem ser evitados com a mudança de linha do tempo. Ambas fases são geniais e mereciam prêmios só por elas. Infelizmente elas são curtas, como o resto do jogo, que possui poucas fases, apesar de serem locais enormes.
Veredicto
Dishonored 2 evolui tudo que foi trazido pelo primeiro jogo. O jogador vai encontrar novos poderes e novas fases que funcionam perfeitamente como playgrounds onde o jogador pode brincar com essas habilidade e armas diferentes. A liberdade do jogador é facilmente percebida como o foco principal da equipe do jogo, existem várias maneiras de completar seus objetivos e isso não soa mecânico e forçado como em outros jogos que se vendem dessa forma. Dishonored consegue trazer essa liberdade sem “quebrar” o game design, mantendo o jogo balanceado e divertido, mesmo com tantas formas de se fazer os objetivos. Apesar de poucas fases, você termina o jogo querendo fazer uma nova run, seja para experimentar um novo personagem, novos poderes ou outra abordagem. A história fraca é compensada pelo mundo rico em detalhes e que vale uma pena você parar para contemplar aquilo tudo. Termino esse review repetindo algo que sempre falo para as pessoas quando se trata de Dishonored: É tudo que Assassin’s Creed deveria ser mas não é.