A Netflix estreia Desobedientes (Wayward, 2025), minissérie em oito episódios criada por Mae Martin, que também integra o elenco ao lado de Toni Collette, Sarah Gadon, Sydney Topliffe e Alyvia Alyn Lind. A produção parte de uma premissa conhecida — o internato religioso que promete “corrigir” adolescentes problemáticos — para desenvolver uma trama que mistura mistério, crítica social e atmosfera sombria. Confira a nossa crítica da série.
A trama de Desobedientes
A história acompanha duas linhas narrativas que logo se cruzam. Em Toronto, em 2003, Abbie (Sydney Topliffe) e Leila (Alyvia Alyn Lind) são adolescentes em conflito com a família e a escola. Após um episódio que as coloca em apuros, elas são encaminhadas para a Tall Pines Academy, instituição que promete disciplina, métodos terapêuticos inovadores e contato com a natureza como solução para os dilemas da juventude.
Enquanto isso, Alex (Mae Martin) e Laura (Sarah Gadon) se mudam para a cidade de Tall Pines, em Vermont, buscando recomeçar. Laura estudou na Academia e atribui sua transformação pessoal à fundadora Evelyn Wade (Toni Collette). Evelyn é uma figura magnética, admirada por muitos, mas cuja metodologia e influência despertam desconfiança. O contraste entre a aparência acolhedora da cidade e os mistérios da escola guia a narrativa.
Temas e atmosfera da série da Netflix
Criada por Mae Martin, que ficou conhecida por Feel Good, Desobedientes rompe com o tom cômico e autobiográfico de trabalhos anteriores. A série adota um clima mais sombrio, ainda que o humor ácido apareça em alguns diálogos. O que predomina é a sensação de desconforto: nada em Tall Pines é o que parece, e cada episódio expande a desconfiança sobre os métodos aplicados na Academia.
A trama aborda a pressão social sobre jovens considerados “problemáticos” e critica a indústria que se construiu em torno da ideia de reabilitação. O discurso de Evelyn sobre traumas herdados e a necessidade de quebrar padrões familiares dialoga com debates contemporâneos sobre saúde mental, mas a narrativa evita respostas fáceis. O resultado é uma obra que questiona mais do que explica, deixando espaço para múltiplas interpretações.
Elenco e atuações de Wayward
O elenco de Desobedientes é um dos pontos altos. Toni Collette entrega uma Evelyn enigmática, que transita entre guru inspiradora e figura ameaçadora. Mae Martin interpreta Alex como um anti-herói em busca de sentido, enquanto Sarah Gadon traz vulnerabilidade ao papel de Laura. Entre os jovens, Sydney Topliffe e Alyvia Alyn Lind se destacam com personagens marcados por traumas, mas ainda em processo de formação.
Essa dicotomia entre os adolescentes — moldáveis e em busca de cura — e os adultos — presos a segredos e passados mal resolvidos — reforça o núcleo temático da série. O contraste ajuda a sustentar a tensão dramática ao longo dos episódios.
Com direção de Euros Lyn, Desobedientes aposta em ritmo cadenciado e ambientação inquietante. A fotografia valoriza a natureza da Nova Inglaterra, ao mesmo tempo em que o design de som transforma ruídos cotidianos em elementos perturbadores. Essa escolha estética cria uma atmosfera de constante instabilidade, em que qualquer cena pode se revelar um sonho, alucinação ou manipulação.
O final de Desobedientes e suas implicações
O desfecho de Desobedientes mantém o tom aberto que marca toda a série. Os mistérios em torno da Tall Pines Academy recebem algumas respostas, mas não há uma resolução definitiva. O foco recai mais na jornada emocional dos personagens do que na explicação racional dos enigmas. Essa escolha pode frustrar espectadores que buscam conclusões concretas, mas está alinhada à proposta de Mae Martin de construir uma obra sobre transição, trauma e permanência da dúvida.
A conclusão também sugere que a história poderia ganhar continuidade, ainda que tenha sido concebida como minissérie. O espaço deixado por relações inacabadas e revelações parciais pode ser lido como fragilidade narrativa, mas também como convite à reflexão.
Crítica: Desobedientes (Wayward) vale a maratona da série na Netflix?
Desobedientes é uma produção que combina crítica social, mistério e atmosfera inquietante. A série questiona os limites entre cuidado e controle, abordando como instituições moldam a juventude sob o pretexto de proteção. Com atuações fortes, especialmente de Toni Collette e do núcleo jovem, a obra se destaca mais pelo caminho que percorre do que por suas respostas finais.
Disponível na Netflix a partir de 25 de setembro de 2025, Desobedientes confirma Mae Martin como uma voz criativa capaz de transitar por diferentes registros, mesmo que nem sempre ofereça todas as soluções que o público espera.