Desenterrando a maldição da Múmia no cinema

O ano era 1932 e o cinema já acompanhava o desenvolvimento de uma das maiores revoluções do gênero de terror: Os Monstros da Universal. Aproveitando a crise econômica da época, além de um quadro social bastante angustiante, a Universal Pictures enxergou uma ótima oportunidade de lucrar diante de um cenário que parecia pouco favorável para empreitadas arriscadas. Com o sucesso do Drácula de Bela Lugosi e do Frankenstein vivido pelo jovem Boris Karloff, o estúdio buscou no Egito sua próxima ferramenta de horror: A Múmia.

10 anos antes, arqueólogos haviam abalado as estruturas da história ao descobrirem o túmulo de Tutancâmon. Tal feito habitou as capas de revistas e manchetes dos jornais, muito por causa de uma suposta maldição da múmia que ceifou a vida de vários dos envolvidos na escavação. Todas as cartas estavam na mesa para transformar esse mito em um dos filmes mais clássicos da rica história do terror. Mas eram necessárias as pessoas certas no comando.

Boris Karloff era, ao lado de Lugosi, um dos rostos dos neófitos Monstros da Universal. Por isso fez sentido que ele acumulasse também o papel da Múmia, estabelecendo uma característica marcante desse universo: a repetição interminável de atores nos mais variados papéis. Com direção do lendário Karl Freund, que havia trabalhado ao lado de Fritz Lang em Metrópolis, e Jack Pierce emprestando seus divinos dotes de maquiagem, nascia o visual definitivo da Múmia em todos os filmes lançados até hoje.

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O lendário Boris Karloff em cena no clássico A Múmia (DIvulgação: Universal Pictures)

O sucesso de público e crítica fez com que a Universal Pictures produzisse intermináveis 30 filmes durante duas décadas da primeira versão dos seus Vingadores monstruosos. Entraram na jogada longas como O Homem Invisível (1933), A Noiva de Frankenstein (1935), O Homem Lobo (1935) e por aí vai. Claro que a múmia ganhou novas versões, mas nenhuma sequer arranhou a qualidade do clássico de 1932. Na verdade, o que se viu foi uma queda livre rumo à decadência.

A Mão da Múmia (1940) foi a primeira tentativa da Universal Pictures de emplacar novamente seu terror egípcio. Restando apenas Jack Pierce do trio original, a coisa desandou de maneira assustadora. A Tumba da Múmia (1942), continuação (!) do filme de 40, colocou Lon Chaney Jr. no papel de vilão. Mas esqueceu de construir um roteiro decente. Antes de ser enterrada por um bom tempo, a maldição ainda se estendeu por O Fantasma da Múmia (1944), A Casa de Frankenstein (1944) e A Maldição da Múmia (também de 1944).

O tempo passou e a Universal Pictures decidiu que era a hora de revisitar um de seus maiores clássicos. Com direção de Stephen Sommers e elenco formado por Brendan Fraser, Rachel Weisz (<3), Arnold Vosloo e John Hannah, A Múmia estreou em 1999 com uma pegada de terror e aventura no melhor estilo Indiana Jones. O sucesso de bilheteria, 445 MILHÕES de Trumps para um orçamento de 80 milhões, garantiu duas continuações nos cinemas e uma versão animada. Além de descartáveis spin offs do Escorpião Rei, aquele personagem vivido por um estreante nas telonas: Dwayne “The Rock” Johnson.

Brendan Fraser, Rachel Weisz (<3) e John Hannah em cena no segundo melhor filme da Múmia de todos os tempos. (Divulgação: Universal Pictures)

Depois de quase uma década enterrada, A Múmia retorna para as telonas. Agora com Sofia Boutella como vilã e Tom Cruise correndo pelos cenários. Com direção de Alex Kurtzman, o longa marca o início oficial do Dark Universe, versão atualizada dos Monstros da Universal. Novos tempos, novas abordagens, velhos personagens. Passado e presente se encontram na tentativa de emular um marco na história do cinema. O resultado só o tempo irá revelar, mas fica a esperança de que nenhuma maldição caia sobre essa ideia.