Depois da Caçada (After the Hunt, 2025), dirigido por Luca Guadagnino e roteirizado por Nora Garrett, chega ao Prime Video após campanha nos cinemas como um drama universitário que explora tensões de poder, versões conflitantes da verdade e os limites da responsabilização em tempos de debates intensos sobre conduta sexual. Com Julia Roberts no centro da narrativa, o filme marca uma nova fase na carreira da atriz e reafirma o interesse de Guadagnino por histórias que surgem de relações complexas. Confira a crítica:
#MeToo e cultura do cancelamento
A trama de Depois da Caçada
A trama acompanha Alma Imhoff (Julia Roberts), professora de filosofia de Yale prestes a conquistar estabilidade acadêmica. Sua rotina é interrompida quando Maggie Price (Ayo Edebiri), aluna promissora e sua protegida, acusa Hank Gibson (Andrew Garfield), amigo próximo de Alma, de agressão sexual após uma festa na casa da professora. A partir daí, o longa constrói um quebra-cabeça emocional em torno de confiança, lealdade, autointeresse e a forma como cada personagem manipula – consciente ou não – suas próprias narrativas.
Guadagnino conduz a história inteiramente pelo olhar de Alma, que não testemunha o incidente e precisa interpretar versões conflitantes. Ao optar por uma protagonista que observa tudo de fora, o diretor mantém o público na mesma posição de dúvida: a verdade nunca é dada de forma direta. A hesitação do roteiro em assumir um posicionamento definitivo faz parte da proposta, embora também gere um terceiro ato mais distante, no qual a conclusão não surge de forma contundente.
Visualmente, o filme se apoia em composições meticulosas e ambientes universitários que reforçam o clima de instabilidade. O apartamento de Alma, cada vez mais escuro, simboliza o colapso emocional da personagem à medida que ela tenta conciliar sua carreira, sua visão ética e a pressão institucional. A trilha de Trent Reznor e Atticus Ross, marcada por influências de jazz, amplia essa sensação, evoluindo de texturas discretas para arranjos intensos que refletem a crescente ansiedade da protagonista.
O roteiro de Nora Garrett dialoga com obras como Dúvida (2008), ao examinar como crença e incerteza moldam a percepção que temos dos outros. Com o tempo, a questão sobre o que realmente aconteceu na noite do suposto ataque deixa de ser o foco. O filme investiga as contradições de seus personagens, revelando fragilidades, impulsos e disputas geracionais. Garrett destaca como cada figura carrega fissuras: Alma enfrenta dependência de substâncias e episódios passados que influenciam seus julgamentos; Maggie mostra ambições que desafiam a imagem inicial de aluna ideal; Hank, por sua vez, tenta preservar reputação e carreira.

A atuação de Julia Roberts sustenta o filme, conduzindo Alma como alguém que tenta se equilibrar entre ideais éticos e sentimentos pessoais. Andrew Garfield interpreta um Hank à deriva, enquanto Ayo Edebiri constrói uma Maggie complexa, cujas motivações e inseguranças se revelam gradualmente.
Crítica: vale à pena assistir Depois da Caçada no Prime Video?
Ao final, Depois da Caçada não se posiciona sobre a culpa de Hank. O longa busca discutir como nossa sociedade interpreta verdades subjetivas e como o movimento #MeToo abriu espaço para debates que ainda exigem aprofundamento. Guadagnino apresenta uma história que instiga reflexão, pede atenção ao subtexto e propõe analisar poder, desejo e responsabilidade sob múltiplas perspectivas.